Desde
que soltaste minhas mãos, não sabem mais o que fazer as tuas. Não sabes mais o
que fazer das tuas. Passeiam suspensas, penduradas a esmo ao fim dos braços
brancos e o todo do nada percorre o vão entre teus dedos. Levam com eles a
lembrança vaga de tempos idos, de noites mal dormidas, de sonhos percorridos,
das horas tontas dos dias seguintes. Assim como teus olhos se recordam às vezes
das cores muitas que tinham aquelas manhãs bem cedo. Desde que perderam-se das
minhas, não acham caminho de volta tuas mãos. Habituadas aos mergulhos em águas
muitas, águas mútuas, águas tranquilas e silenciosas, agora vagueiam errantes escapando
das chuvas torrenciais que caem sobre a cidade, ensimesmadas. Tateiam mapas,
procuram direção e nada encontram. Revertem ponteiros, viram calendários ao
contrário e não se encontram mais consigo, com o que eram, com o que tinham,
como o que querem. Aos poucos se lavam em mágoas mútuas, reiteram seus porquês
que nunca explicaram a nada. Nem deram abrigo, nem tiveram abrigo. Desde que
voltaste tuas mãos ao concretismo das coisas, as coisas em si não tiveram mais
sentido. Tuas mãos perderam o sentido, o tato, a textura, a tessitura do canto
que tudo em teu entorno entoava. Tuas próprias mãos taparam teus ouvidos,
fecharam a ti a 7 chaves, rasgaram o endereço, atiraram contra o próprio peito.
E nunca mais tiveste as pernas bambas de contentamentos. Nem sorrisos largos o
bastante, nem a superfície da pele renascida. Desde que soltaste as minhas
mãos...
Necka
Ayala
19/01/2014
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