Elas
ficaram rodeando o topo do prédio dias a fio. Moviam-se de lá para cá e não se
decidiam. Passavam perto, chegavam a ventar meio forte, trazendo anúncios que
não davam em nada. Pareciam presas de algum modo – um cinza acorrentado,
represado dentro delas, farto de si mesmo. Elas pareciam inflar mais a cada dia
sempre à mesma hora. A cada grau que subia, mais consistência ganhavam, todas
gordas tornando mais vagarosas suas passagens. Ainda assim se iam. Elas
roncavam forte em seus sons de sono de cativeiro. E por vezes julgara ver cair
gota vencedora, aquela que, rompendo a pele fina quase inexistente, conseguiu
vir até aqui. Nem chegava a molhar o concreto. Nem fazia mal. Elas levaram
meses suportando o insuportável: não ser o que eram. Nem trocas de lua, nem
preces frequentes, nem crentes recentes podiam liberta-las. E assim foi se
alongando mais a necessidade delas dos que cruzavam as ruas de novo, olhando
para cima, querendo grafitar os céus. E aumentando mais a necessidade delas em
chegarem ao momento máximo de exercerem seus dons para morrer em paz, missão
cumprida. Elas se parecem contigo. Se parecem comigo que espero ouvindo a mesma
frase trovejar dentro de mim....waiting for my real life to begin, meio
desafinada de tanto que passou.
Mas
agora há pouco caiu gelo sobre esta varanda. Até o céu de algum jeito abriu
algemas. Escancarei todas as janelas da casa. Agora venta sobre as folhagens e
é lindo ver os movimentos, como se sacudissem as cabeças e relaxassem ao sabor
da natureza. E tu? E eu? Quando seremos?...
Necka
Ayala
13/02/2014
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