A
lua é nova e o calendário. Já é um dia primeiro de alguma coisa que chegou e
ainda não batizo, não contorno, não nomeio. Alguma coisa fadada, feito as
linhas sobre as mãos que não fui eu quem escavou. As minhas, as tuas... linhas
que destinavam-se a cruzar instantes em uma sutil sincronicidade; estávamos
então em duas cidades distantes entre si, dando passos a esmo, indo ao sabor do
vento que ventava numa, do vento que faltava a outra. Queríamos pontes que nos
transportassem a um próximo momento de vida. Andávamos. Não víamos o que viria,
o que viríamos a ser, a possuir, a ver, a construir. Lá, ja era nova aquela
lua, já era outro calendário, outro janeiro prometendo algo de bom. Tanto tempo
passou... olho minhas mãos e as tuas, apartadas das coisas que seguravam com
vontades muitas. Elas parecem vagar novamente por aí, feito errantes. Fiquei
alimentando luas, tratando de dar a elas a atenção que precisavam para
continuarem desfilando. Cuidei dos jardins que tivemos. Fiquei regando a tudo
quanto os mesmos ventos iam secando – flor, vidraça, retina, pele antiga e
calçada. Enquanto te ocupavas de lustrar o aço frio de tantas asas, me ative ao
que me movia e acabei me distraindo de ti, assim, sem pretender. Quando vi,
havia nascido em mim essa fome de mais pontes, mais instantes, presentes ainda
não abertos, cuja graça se demora tanto quanto mais espero que venham. E é por
tanto que espero – travessias. Tenho as mãos vazias. Posso ir. Já é uma lua
nova no céu que me abriga. E ainda que ele se pareça em muito com o céu que te
leva, não, não é o mesmo! Nem nós. Nem nós.
Necka
Ayala - 01 de Março de 2014.
(fragmento
de coisa de outro tempo)
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