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sábado, 1 de março de 2014

Lua Nova

A lua é nova e o calendário. Já é um dia primeiro de alguma coisa que chegou e ainda não batizo, não contorno, não nomeio. Alguma coisa fadada, feito as linhas sobre as mãos que não fui eu quem escavou. As minhas, as tuas... linhas que destinavam-se a cruzar instantes em uma sutil sincronicidade; estávamos então em duas cidades distantes entre si, dando passos a esmo, indo ao sabor do vento que ventava numa, do vento que faltava a outra. Queríamos pontes que nos transportassem a um próximo momento de vida. Andávamos. Não víamos o que viria, o que viríamos a ser, a possuir, a ver, a construir. Lá, ja era nova aquela lua, já era outro calendário, outro janeiro prometendo algo de bom. Tanto tempo passou... olho minhas mãos e as tuas, apartadas das coisas que seguravam com vontades muitas. Elas parecem vagar novamente por aí, feito errantes. Fiquei alimentando luas, tratando de dar a elas a atenção que precisavam para continuarem desfilando. Cuidei dos jardins que tivemos. Fiquei regando a tudo quanto os mesmos ventos iam secando – flor, vidraça, retina, pele antiga e calçada. Enquanto te ocupavas de lustrar o aço frio de tantas asas, me ative ao que me movia e acabei me distraindo de ti, assim, sem pretender. Quando vi, havia nascido em mim essa fome de mais pontes, mais instantes, presentes ainda não abertos, cuja graça se demora tanto quanto mais espero que venham. E é por tanto que espero – travessias. Tenho as mãos vazias. Posso ir. Já é uma lua nova no céu que me abriga. E ainda que ele se pareça em muito com o céu que te leva, não, não é o mesmo! Nem nós. Nem nós.

Necka Ayala - 01 de Março de 2014.

(fragmento de coisa de outro tempo)

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