Eu pensei que ela era louca. Ela não é. Pensei que fosse livre, de
alguma forma, livre de poder deixar-se sentir o que sentia a despeito das
paredes da casa, das grades de ferro, da torre do castelo imaginário ao qual se
submetia. Ela não era, nem mesmo queria. Eu pensei que ela era linda e ela não
se via. Mostrava imagens suas que nem tinha, envelhecidas, gastas, incapazes de
se crer. Pensava que ela era das águas, mas ela ia além. Achei que
ela fosse numa direção, mas rumou direto a outra, sobre a qual nem suspeitava.
Tentava adivinhar um passado que explicasse o ponto a que chegara seu presente
infértil, mas não tinha...; era passado e isso, para ela, bastava. Nem lembrava
do que havia sido, do que havia dado, do que havia querido, esperado e nunca
havia vindo. Pensei que ela não esqueceria, ela esqueceu. Esqueceu como era a
janela aberta e a noite se mostrando livre. Esqueceu as palavras-chave que
usava para chamar pelo meu nome. Agora apenas é distante. E eu é que não
era. Nada.
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