Foram-se
dos espelhos os bilhetes. E as fotografias. As vestes brancas defronte a
varanda e a lua enorme que dali se via. Foram-se os pedidos de casamento e o
caderno negro sobre a mesa. Os trechos de poema que diziam que “de tudo ao meu
amor serei atenta” e as melodias que cantava baixinho em teus ouvidos. Foram-se
as asas alaranjadas das borboletas e os sinais de três em três. O gosto, a
taça, o gelo e as palavras cruas como a nudez das máscaras era. A verdade se
foi. A vontade se foi. Por que quiseste, acima de tudo, esvaziar as mãos. E
nada pude fazer quanto a isso, senão prantear pelo tanto que perdias de ti
nessa escolha. De ti. Foi a ti que perdeste: aquela que sorria vasto nas fotos
velhas que ainda manténs. Mas a vida não reside nas caixas de coisas guardadas
às quais se visita quando se sente saudades do que se foi. A vida é esta que se
abre à minha frente e me chama para um café no meio da tarde, inesperado. E
vou. Porque não quero esvaziar minhas mãos nem deixar saírem de mim todas as
coisas que sinto. Quero o sol na pele para sempre. E a lua que se reflete toda
noite na poça d`água na calçada. Quero quem queira querer antes de mais nada. E
que me diga com todas as letras maiúsculas, F I C A!
Necka.
Fevereiro.2017
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