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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Não beija-flor.

Olhei mais e mais fundo e não vi nada. Não havia. Um vazio tão imenso, que parecia o fundo de um mar, morto. Um breu pressionado pelas águas turvas de um oceano inteiro. Nem canoas naufragadas. Nem anéis de noivado jogados fora num rompante. Nem corais. Nada. Não havia nada lá. Tentava ouvir mas o silêncio era todo. Nem o som de onda se formando, nada. Não ouvia nada lá. Era só possível, a fútil superfície. A pele fina dela sobre tudo. Nada que quisesse dizer coisa alguma. Tudo misturado e denso e confuso. Só coisa perdida, coisa à deriva. Olhava e queria muito ver luz, ouvir som, cantares. Quaisquer uns. Não vinha. Só aquela coisa fria e distante, feito miragem que vai se esvaindo da vista. Inerte. Quem era? Não reconhecia a nada. Estava ali mas não estava. Era, mas não era mais. No último instante passa um beija-flor por sobre a cena. Veio deixar sinal. Entendi. Não entendeu. Ou entendeu e não quis jogar luz sobre tudo. E quando um não quer, dois não têm. 


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