Silêncio.
Eu quero, eu preciso do mais profundo silêncio. Ficar sem ouvir por um tempo,
longo tempo. Eu quero o nada de sons do fundo das águas. O vazio nos ouvidos,
pleno e todo ele — dêem-me o silêncio. Nem canto de pássaros, nem ruídos da
noite, nem o despertar alucinado do dia que se levanta; nem carros, sirenes,
palavras — quaisquer palavras, nem uma. O mal que veio daquela boca, eu quero,
eu preciso silenciar. Silêncio! Não diz mais nada, se nada tens a dizer que
acaricie a superfície dessa alma esfolada. Cala! Eu quero, eu preciso de
silêncio, inteiro, imenso, vasto. Preciso andar e ir fazendo todas as coisas
sem ouvir a nada. Em retiro. Em exílio de mim e de tudo que tenho escutado.
Silêncio! O mesmo silêncio do qual Deus se vale enquanto assiste a tudo isso, a
toda essa sangria, a todas as carnificinas que as palavras produzem. Me deixa
assim, sem ouvir a nada. Nem o bater das asas, nem as notas — tenho todas as
canções que preciso na cabeça, dispenso a música. Nem o vento na fresta, nem as
chaves na porta, nem o sorver do ar dos cansaços, nem o suspiro do fim; nem o
bater dos pratos contra as mesas, nem o soar dos telefones, nem as teclas, nem
os dedos, nem a borracha dos pneus contra os solos das garagens. Silêncio! Eu
quero, eu preciso agora de todo o silêncio que esse instante requer — um réquiem.
Necka
09/07/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário