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domingo, 9 de julho de 2017

Réquiem


Silêncio. Eu quero, eu preciso do mais profundo silêncio. Ficar sem ouvir por um tempo, longo tempo. Eu quero o nada de sons do fundo das águas. O vazio nos ouvidos, pleno e todo ele — dêem-me o silêncio. Nem canto de pássaros, nem ruídos da noite, nem o despertar alucinado do dia que se levanta; nem carros, sirenes, palavras — quaisquer palavras, nem uma. O mal que veio daquela boca, eu quero, eu preciso silenciar. Silêncio! Não diz mais nada, se nada tens a dizer que acaricie a superfície dessa alma esfolada. Cala! Eu quero, eu preciso de silêncio, inteiro, imenso, vasto. Preciso andar e ir fazendo todas as coisas sem ouvir a nada. Em retiro. Em exílio de mim e de tudo que tenho escutado. Silêncio! O mesmo silêncio do qual Deus se vale enquanto assiste a tudo isso, a toda essa sangria, a todas as carnificinas que as palavras produzem. Me deixa assim, sem ouvir a nada. Nem o bater das asas, nem as notas — tenho todas as canções que preciso na cabeça, dispenso a música. Nem o vento na fresta, nem as chaves na porta, nem o sorver do ar dos cansaços, nem o suspiro do fim; nem o bater dos pratos contra as mesas, nem o soar dos telefones, nem as teclas, nem os dedos, nem a borracha dos pneus contra os solos das garagens. Silêncio! Eu quero, eu preciso agora de todo o silêncio que esse instante requer — um réquiem.

Necka
09/07/2017

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