Acendi
luzes. O tempo todo as acendi. Queria ver, eu queria. Na superfície azulada, um
brilho ainda que póstumo, um resto de reflexo como de estrela morta há centenas
de anos. Acendi luzes para que houvesse como. Despi e despi e despi até que a
nudez se tornasse insuportável de tão incisiva. O tempo todo as acendi, as
luzes. Como farol querendo ver barco. Pelo contrário, pelo avesso, eu quis.
Algo me dizia que do dilúvio resistiria gota, uma, uma só e toda ela redentora.
Pelo mínimo das coisas, quis sede — o bastante para tão pouco. Era néctar
aguardando pelo pouso último do pássaro antes de entregar-se desistido ao
predador. Acendi luzes até pelos jardins. O tempo todo as acendi. Levava mãos
quentes para os afagos que não encontravam nascedouro. Deixava a hospedagem
pronta para as eventualidades que não anunciavam os calendários. Enquanto fui
disso, não fui nada. Vivi de acender as luzes, todas elas o tempo todo. Ceguei
de tanta. Já não vejo.
Necka.
14/08/2017
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