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terça-feira, 7 de novembro de 2017

Avós

É de madrugada que elas aparecem. Vagalumeando a noite silenciosa e leve. Mostram luz e apagam. É fátua e mais uma vez passageira a coisa que sinto por elas. Mas elas me distraem do resto. É um resto no prato sobre a mesa. É uma sobra qualquer que não tem nome, isso — que ficou exposto a céu aberto. É nas madrugadas que me entendo comigo. Que erro, que revelo, que descortino. E são tantas, essas madrugadas. Como cresceram, como aumentaram a tudo que se traduzia em vazio. Antes, vinham de três em três e eram velhas conhecidas em suas rotinas. Agora são muitas, incontáveis e todas minhas. É de madrugada que elas me convidam — a noite é a avó permissiva dessas travessuras. Mas o que faço pelas madrugadas é a tonta travessia de apenas mais um dia que não vai dar em nada. Me fazem companhia, me contam mil histórias, me chamam pra dançar. Povoam minhas horas, sussurram poesias, me botam no lugar. Não são qual borboletas, mas fazem suas acrobacias da fonte até o mar. Me deixam ter as águas que mútuas novamente, minh`alma irão lavar.

Necka Ayala

08/11/2017

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