Batendo
os dentes contra as coisas. Não é fome, é revolta consumindo as horas nesse
desespero, nessa coisa que só se agiganta. Bicho furioso enquadrado, encarando
a solidez das paredes que o limitam. E a boca espuma, os olhos vidram, e o
sangue lateja quente por onde passa, deixando rastro ali mesmo. Não é sono, é
congelar um pouco-tempo qualquer antes que perca totalmente a cabeça e faça
coisa sem volta. Não desiste, pois não lhe foi dado alívio; veio corte por cima
de corte, chibatada por cima de chibatada. A carne avolumou de tanto que teve.
Agora grita infinitamente, grita e grita mais e nenhum grito basta. Mataram a
vida quando estraçalharam-lhe os sonhos, todos eles. Grave. Hediondo. Pior,
irreversível. Agora as unhas arranham a pele que outrora fora bela. E dedos
cerram-se controlados para não causarem uma resposta à altura da dor que sentem
nas juntas. Foram torcidas. Foram lesados em seus significados, os dedos.
Tirados seus propósitos de luz, tornaram-se setas apontando rentes, tesos estão
em nome do que não lhes serve mais. Eram delicados e gentis, os dedos,
poéticos, harmoniosos. A língua era. O idioma era. Agora tudo ferve vulcânico,
louco, insano, frio e desvairado. Passou tempo demais comendo coisa estragada.
Ouvindo o silêncio mórbido ao seu entorno. Esgotou gota por gota tudo que achou
que existia e viu que foi tudo em nome de coisa-feia. Feia. Agora é feia, a
cara dela.
Necka
Ayala
29/01/2018
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