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sexta-feira, 13 de abril de 2018

CENTELHA II


Quem somos agora diante de tanta fealdade? Quando nossos olhos já não suportam mais se depararem com tamanhos desatinos? Quando nossos ouvidos acumulam notícias e seus pesos? Quem somos nós agora, nesta noite em que luzes maléficas cortam os céus que queríamos estrelados? O que sentimos é mais que espanto, é a noção exata de uma coisa que nos afronta. É o todo da palavra pânico. O poder arregaça as suas mangas largas e mostra a que veio. Em todos os lados, em todas as esferas. Agora entendemos — muitas máscaras caíram e os supostos salvadores são, na verdade, nossos reais perseguidores. Quem somos nós com os olhos que temos hoje, sem podermos mais adiar a verdade nua que se estampa em nossa cara lavada? O que fazer para dar aos olhos algum descanso e, à alma, algum alívio? Que crença, que prece, que gesto pode nesse instante dar alento a quem tanto espera pela paz? Dentro, ainda que mínima, está essa centelha. Resistente, às vezes quieta. Resiliente, às vezes sábia. O que é? É esse sentimento de inconformismo que te faz agora, mais humano, mais sensível: tu. Porque choras pela injusta carnificina de teus semelhantes, tens luz. Na gota salgada que te escorre pela face, reflete-se a luz. E é a ela que deves — a despeito de tudo, alimentar. Sim, sente! Sente a tristeza pelo irmão que se vai. Sente toda a dor que te ocupar o peito. Sente, pois sentir é a nossa mais divina dádiva! Enquanto sentimos, não nos igualamos aos nossos algozes. Resistimos! Enquanto essa centelha existir e te fizer sofrer um tanto, é porque estás vivo! Vivo de um jeito certo: com o consentimento do teu Criador que te chama sempre que teu coração bate pelo outro, não somente por ti mesmo. Dentro, quieta, essa fagulha celeste te protege de tudo quanto vejam teus olhos cansados. E é ela que, ao fim de tudo, se resumirá no todo de uma palavra infinita: redenção.


Necka Ayala.
14/04/2018


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