Desvivo.
O sol não existe. O vento gelado espanca as vidraças velhas, foscas. Desvivo. O
amor é uma mentira e o inverno já dura tempo demais, anos, contados dia após
dia numa repetição infernal de desventuras. Venta. Venta muito. E tudo
escurece, padece dessa desvivência. Dessa não permanência das coisas juradas à
luz longínqua de uma lua esquecida, partida ao meio. Partida. Parto. Parto das
coisas que cria. As deixo encurraladas na própria espera. Espera. A coisa mais
vil disso tudo. Espera. A palavra que me aprisionava, espera. Palavra irmã das
coisas iludidas. Das coisas falsas, das promessas vazias, das palavras vazias,
toscas, velhas, gastas. Palavra das coisas quebradas que esperam um conserto
que não vem. Nada vem. Nada serve. Nada basta. E tudo se resume nessa espera
casta, nessa coisa rota, nesse desvario insano das noites sem fim. Que nunca
mais amanheça. Nunca mais.
Necka
13/06/2018
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