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terça-feira, 10 de julho de 2018

Lareira


Tanto sol. Tanto vento frio. Tanto lugar. E seguimos, seguimos em frente às taças esperando a sede. Tantas horas, ponteiros desencontrados, tantas esperas à toa, a troco de nada. Tanto fogo colorido no meio do cômodo, tanta nota certa abraçando a palavra. Tanta chance posta fora, tanta vida posta fora, tantas coisas sagradas maculadas em nome do nada. Tantos dias, tantas madrugadas e abraços sem contornos. Tantos silêncios! Tantos silêncios. E covardias. E medos. E desistências. Seguimos, seguimos vestidos e prontos para a festa que não nos convidamos. E tudo ali, nos assistindo. Milagres querendo se mostrar e a fé guardada em sigilo absoluto. Seguimos adiando a largura máxima do riso para um dia que não vem nunca, que não chega, que não bate à porta — a mão segue tesa e paralisada em frente a ela, a porta. Não se move. Nada faz. Nada diz. Se confina em si mesma, invalidada. Um dia fora do tempo. Mais um. Mais uma série de coisas que só vivem condenadas ao lado de dentro de uma cabeça cheia de muros. Tanto sol! Tanta rua. Tanto lugar. E o fogo se consome lindo enquanto ficamos de costas para ele e não o vimos. O álcool evapora das taças e a sede não nos acomete, não nos toma. Tanto poderíamos com todo esse futuro que tivemos. E entre tudo, paredes demais.

Necka
11/07/2018

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