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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Desesperança

Se pudesse sim, te devolveria a delicadeza que tinhas, aquela dos teus grafites. E a nitidez do que olhavas, redesenhando contornos, colorindo de novo tuas fotografias. Preencheria de súbito tua varanda com panos brancos dançando ao toque das noites. Reporia no lugar a tua pressa e soltaria os pássaros que tens na garganta. Se possível fosse, reaveria para ti as coisas adormecidas, entoando cânticos de despertar, antecipando a manhã primeira do teu futuro – esse que tanto esperas e nunca vem porque ainda esperas. Não te disse? Não se pode viver de esperanças. Elas só prometem coisas que se alimentam de nos manter famintos. E é preciso agir para fugir de esperas. É preciso determinar que o futuro é. Ainda assim, te pagaria com juras de eternidade pelas contas que assumiste em nome do que não sentes. E preencheria de volta teu peito dormente com calor de raio de sol, branco de raio de lua, de raio de olhar interferindo no curso do teu. Se pudesse, sim, claro que sim, serias tua, tu de novo – todas as tuas faces dispersas, todas as tuas máscaras caídas, nua e diante de si mesma pronta para gerar integridade à alma. E como era lindo te ver assim, sem defesas, quando te davas contigo mesma frente à frente, mirando o conhecido desconhecido, o familiar não visto desde a vida passada, feliz pelo reencontro, pela junção das partes em seu todo. Era lindo te observar observando ao que não tinhas tido, quando o que não havias sido chegava às tuas mãos brandas e brancas. Era lindo ver o nascer do dia feito aurora boreal nos céus de Brasília. E os panos brancos adornando a varanda, e os gritos dos teus pássaros e... para quê futuro ali? Naquele momento, para quê? Sim, te colocaria de volta lá se eu pudesse. Para sempre, para sempre...


Necka 21/11/2013

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