Se
pudesse sim, te devolveria a delicadeza que tinhas, aquela dos teus grafites. E
a nitidez do que olhavas, redesenhando contornos, colorindo de novo tuas
fotografias. Preencheria de súbito tua varanda com panos brancos dançando ao
toque das noites. Reporia no lugar a tua pressa e soltaria os pássaros que tens
na garganta. Se possível fosse, reaveria para ti as coisas adormecidas,
entoando cânticos de despertar, antecipando a manhã primeira do teu futuro –
esse que tanto esperas e nunca vem porque ainda esperas. Não te disse? Não se
pode viver de esperanças. Elas só prometem coisas que se alimentam de nos
manter famintos. E é preciso agir para fugir de esperas. É preciso determinar
que o futuro é. Ainda assim, te pagaria com juras de eternidade pelas contas
que assumiste em nome do que não sentes. E preencheria de volta teu peito
dormente com calor de raio de sol, branco de raio de lua, de raio de olhar
interferindo no curso do teu. Se pudesse, sim, claro que sim, serias tua, tu de
novo – todas as tuas faces dispersas, todas as tuas máscaras caídas, nua e
diante de si mesma pronta para gerar integridade à alma. E como era lindo te
ver assim, sem defesas, quando te davas contigo mesma frente à frente, mirando
o conhecido desconhecido, o familiar não visto desde a vida passada, feliz pelo
reencontro, pela junção das partes em seu todo. Era lindo te observar
observando ao que não tinhas tido, quando o que não havias sido chegava às tuas
mãos brandas e brancas. Era lindo ver o nascer do dia feito aurora boreal nos
céus de Brasília. E os panos brancos adornando a varanda, e os gritos dos teus
pássaros e... para quê futuro ali? Naquele momento, para quê? Sim, te colocaria
de volta lá se eu pudesse. Para sempre, para sempre...
Necka
21/11/2013
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