Andava
esperando chegares. Queria te fazer atravessar esta rua segurando tua mão
imaginária e te levar ali, para veres de perto a imensa Rosa do Deserto
florescida. Calçada alheia, em frente a nós, tardia descoberta. É tanto rosa
que choca aos olhos a vastidão de beleza. E a porta... a porta andou-se abrindo
nos dias que se passaram. Entraram gentes, vozes e suas palavras adoçadas que
saíam quanto mais se deparavam com o sal das minhas. Esteve aqui, também, um
beija-flor inconstante. E uns ventos levando folhas e envelopes para outro
chão. Caíram uns pingos fartos de chuva fresca, mas não chegou a molhar a nada
o bastante. Andei respondendo coisas que me cobraram – umas meio ásperas,
outras meio fora de hora, de contexto. Percebi que sim, foram muitos os cortes
feitos durante a passagem das datas. Gente que constatei estar ali por perto
apenas por estar. Sobrou tão pouco dessa vinda...ficou tudo tão raso ao fim de
tudo, que hoje minhas coisas versam sobre isso, falam a respeito do que se
apura, se fragmenta, se reduz. Por isso o choque ao ver a Rosa do Deserto tão
estupidamente florida. Pareceu-me afronta do destino, rindo-se de mim e de tudo
que comigo não veio, não mais. Mas no fim das contas, do que te conto, entendo
que para cada dia que finda um outro tempo também reduz o que espero. Esperei
chegares para atravessarmos a rua. Somente isso. Quem sabe tomarmos um café ali
e nos olharmos uma outra vez nos olhos, nada mais.
Necka.
21/11/2013
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