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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Livre

Olhou em volta e ainda tinha, no íntimo, aquela sensação de não saber o que estava fazendo ali. Nada fazia sentido na cena. Lugar conhecido e, de repente, sem mais nem menos, tornava-se irreal, como fenda no tempo, algo que já se esvaíra. Deu mais alguns passos contrariados, ia indo a esmo. Viu gente conhecida, cumprimentou cordialmente sem reciprocidade – parecia que estavam todos precisando ser daquela forma áspera. E sentiu-se novamente fora de lugar. O que estava fazendo ali? Não chegava a ser um compromisso. Mais se aproximava de uma insistência para que fosse e não queria ter ido. Mais se parecia com uma resistência à desistência – vinha há meses querendo tanto desistir, desistir...d`existir. Simplesmente. Tinha constatado que a gente se demora a desistir porque pega apego às coisas que tenta. E quanto mais tenta, mais apego pega e não desiste. Pois fica parecendo que é grave ter ido tão longe para desistir quando parece estar prestes a...; mas o que estava fazendo ali? Olhando. Só que, dali, não dava para ver. Era alto demais. E a cena parecia muito pequena, como se parecem as pessoas vistas dos topos dos prédios. Odiava alturas. Odiava a diminuição das coisas. Odiava tudo que se diminuía a despeito do quanto a gente se empenhasse em expandir. Tentava querer estar ali. Não queria. Vinham lágrimas nos olhos e alguma raiva. Definitivamente não era aquela rotina que queria para si. Nem aquelas pessoas, nem aqueles ambientes preparados, premeditados, arranjados, anti-naturais. Nem aquelas palavras, nem aqueles gestos e muito menos a demora, o tempo entre dois gestos bons. Odiava as coisas diminuindo, rareando, levando tanto para acontecer tão pouco. Tão pouco! Era tão nada aquilo que via! E nem dava para ver de tão longe que estava internamente. Já havia passado tempo demais. E as chances diminuíram, a vontade de estar diminuíra, a saudade...
De repente ergueu-se da cadeira e levantou. Deu um primeiro passo resoluto, perguntou onde era a saída e foi, foi! Um grito silencioso de liberdade, uma partida sem explicação, uma indiferença para tudo que ficaria para trás. Não queria estar ali. Nem devia. E quanto mais andava, mais firme ficavam as pernas de novo. E a certeza de que não sabia para onde estava indo – precisava, queria ir. E era já.

Necka Ayala

19/11/2013

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