Vinha
com medo de alturas. Mas ouviu-a dizer: vem! Enfrentou as alturas, todas elas,
as maiores, vendo de cima das nuvens um futuro inesperado acenar dali. Vinha
com peito quebrado, mas ouviu-a dizer: sente, sente mais, sente por mim o que
nenhum outro pôde até aqui. Colou cacos, lustrou o vidro até que virasse
mosaico refletindo luzes, cores, tonalidades e amou. Vinha com apegos, com
raízes, com história quando ouviu-a pedir: deixa, deixa por mim e vem comigo
para terras distantes. Cortou laços, chorou saudades, lavou a cara e olhou para
a frente, para o mesmo futuro que ainda prometia vir dentro de 28 anos. Mas
vinha também com receio de dezembros, muito receio – tinha uns quantos
dezembros ferozes, não gostava deles, não mesmo. Quando veio o primeiro, ouviu-a
dizer: enfrenta, por mim, enfrenta. Respirou fundo, tentou não ir, mas foi-se
dali dezembro adentro. Abriu pacotes, fez fotografias, sorriu um vero sorriso
multiplicado a cada um que passava. E teve mais um dezembro daninho. Depois
ouviu tantas vezes, perdoa! Mais! E perdoava, perdoava, dava mais, doava mais,
concedia – concedia porque desde sempre fora assim mesmo – gente que não amava
pedindo prova de amor. Provava. Se era para subir aos céus, subia; se era para
mergulhar às profundezas do mar, mergulhava; se era para desdobrar o próprio
peito em mil vezes mais largo, desdobrava; se era para fazer disso poema,
fazia. E ainda se perguntava por que...por que depois de dar a tudo quanto
pediam, no fim das contas, chegava sempre ao mesmo ponto...ouvia a mesma
alegação – é amor demais, é exagero demais e isso pesa! Agora se vai dali uma
outra vez...recolhe os cacos, às vezes treme as pernas quando decola, ainda
sente saudades do que desvencilhou, adia dezembros ainda mais e olha, olha para
mais um futuro que não veio pois seria perfeito demais, demais. Demais.
Necka
Ayala
Madrugada
de 24/01/2014
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