Meu
corpo tem marés, tem devaneios. Tem abandonos, recomeços, saudades, receios. Se
incha com a Lua, se esvazia nas insônias pela casa, rondando janelas, olhando
lá fora o chegar do dia. Meu corpo tem poemas e tem reservas, melodias e
bailados, mas tem temores, tremores, calor, calor demais e suores. É fonte,
represa, vertente, tormenta. Se inquieta, se levanta contra a vontade, se
desacomoda e se atira contra o que lhe dê abrigo. É de novo novo, é mais tarde
velho, já plantou semente de flor de ir-se embora. Independe de mim que pouco
posso. E se um dia deram-lhe à luz, quem o manteve fui eu até aqui. Hoje ele
tem marcas, vincos, história. Luzes prateadas fazendo aparições espontâneas que
nem sempre acompanho. Meu corpo tem conquistas, vitórias e fracassos, fracassos
de quem tentou. E leva consigo um destino que não meço, não antevejo, não
adivinham nem as cartas nem as previsões. Só ele sabe o que será...se escombro
nu deitado ao chão ou semente, se alimento ou cinza oferecida aos deuses dos
ventos. Só ele sabe para onde ruma. Eu
só sei que meu corpo às vezes vem em ondas, outras vezes nem vem. Aparece e
some. Quer e desiste. Espera, espera, espera...
Necka
Ayala
25/01/2014
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