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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Centelha

O que valida o amor? Serão os dias bons ou o luzir constante do brilho entre os pares de olhos? Serão as noites breves ou o vagar dos relógios enquanto uma nova noite tarda a vir? Não. Os dias bons vivem a mercê do destino. Alguns já nascem fadados às tempestades, à viração súbita do tempo, aos naufrágios e às despedidas. Os dias bons não se garantem nem duram para todo sempre. Tampouco o brilho permanece irradiado, pois os olhos carecem fechar-se vez em quando, descansarem, nutrirem um pouco de breu, defenderem-se do excesso de realidade que, indefesos, vêem. As noites só são breves quando a nada temem e a nada mais querem. Mas ainda assim se fartam, mudam de acordo com as luas. Ponteiros? Atendem somente àquilo que se sente — quando há saudades, se espreguiçam, não despertam cedo, desaceleram. Quando há alegria, voam, dançam entusiasmados e se movem de lugar numa velocidade assustadora. O que valida o Amor é o mesmo que valida a Fé — a confirmação. Quando o Universo gira a Roda da Fortuna do topo ao outro extremo e pergunta: — hoje, ao que escolhes tu? E repetes, confirmando tua escolha: — Ao Amor! Quando chega a Tempestade e os Ventos bravios te perguntam: — agora, ao que escolhes tu? — Ao Amor! Quando o brilho adormece e tudo em teus olhos é salgado e áspero e a dor te pergunta: — neste instante, ao que escolhes tu? — ao Amor! Do mesmo modo se valida a Fé. Quando nada mais resta e o Criador parece desatento aos gritos que entoas. É aí que te pergunta: — escolhes deitar comodamente nos braços de tua desilusão ou preferes manter a centelha de luz que resiste contra o vento? E optas por colocar ambas as mãos em torno da chama pequenina, protegendo e alimentando-te do quase nada de calor que dela vem. De tempos em tempos Amor e Fé pedem confirmação. Não porque precisem saber se irão contigo alma adentro. Mas para saberem se tu irás com eles eternidade afora.


Necka 02/12/2014

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