Esta
tarde não haverá a chuva. Nenhum alento, nenhum descanso para o peso que trago
comigo. Nem um alívio, nem um encantamento. Na hora mais grave não terei comigo
a cumplicidade dos trovões que gritam o grito que trava minha garganta, que me
furta o ar. Naquele momento mais severo que precede a noite, o céu se rirá da
desgraça que me abraça, mantendo esse azul farto sobre a minha cabeça, numa
afronta ao que sinto — se seguirá o tempo bom. O vento forte e bravio não será
meu aliado no sacudir das janelas, fazendo o ruído que minha alma quereria
fazer agora. É tanto desvario, que ela tem ares de desespero, quer fazer tremer
o mundo inteiro, quer poder e nada pode, quer dançar mas amputaram-lhe as
pernas, quer voar mas cortaram-lhe as asas. Pediu socorro e o abismo não foi
capaz de eco. Esta noite não haverá o frescor nem a palavra certa. Nem a
esperança nem a despedida definitiva que já houve, mas não vi.
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