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quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Ame-a ou Deixe-a


Ame-a ou deixe-a. Se não houver mais perfume nas mãos onde já houve flor, deixe-a sem nada, para que ela possa descansar em paz. Se não houver mais a recordação de luz onde havia brilho partilhado nos olhos, deixe-a, para que ela possa adormecer para sempre. Deixe-a, quando a covardia tomar conta dos seus gestos que outrora foram desbravadores de futuro. Quando o veneno tiver possuído seus lábios que já pertenceram em tempos idos ao sabor do encontro, doce, leve, inesperado, deixe-a ir dali, de perto. Porque o amor se confirma na presença capaz de dispensar palavras. O amor não precisa, de verdade, das palavras. Ele se dá na comunhão. Ele se mostra na nudez de máscaras, quando estamos dispostos a, apenas, sentir. Ele se revela em segredo e é apenas para estar em par. Ele dança entre dois corpos, flutua solto e livre entre dois corações, brinca entre dois braços enquanto se abraçam. Mas se não houver mais nem fagulha onde já houve o fogo ardente da vida em si, deixe-a, para que ela possa encontrar o calor eterno do ventre da terra. O amor se fortalece estando com aqueles que o querem. Mas ele não é Deus e não consegue, por mais que queira, fazer-se forte na distância. O amor é a expressão de Deus, não Ele. Ame-o ou deixe-o, ao amor. Pois ele requer a verdadeira liberdade — aquela que só existe no todo do encontro entre nossos olhos e o espelho, quando estamos satisfeitos com o que vemos, quando nos orgulhamos de nossos feitos, não quando nos arrependemos de nossas insanidades e fugimos desse mesmo encontro. Se não houver mais nem mesmo a capacidade de defender ao amor, deixe-o ir. Pois uma vez que não o queiram defende-lo, é porque abriram mão do próprio direito a ele que veio, desde o primeiro instante, para fazer de cada um o todo do que é. O amor vem para revelar as muitas faces sem máscaras que cada um é capaz de ter em si. Para abrir as asas de vôos indescritíveis, para mostrar a verdadeira concepção de cada palavra, reescrevendo cada dicionário; o amor vem para abrir as ruas e juntar as mãos em passeios por elas. O amor não se acovarda diante da primeira tempestade. Não se esconde da vida diante da primeira brisa mais solene que sopra. Não foge na hora em que é chamado à luta e à vitória. O amor vem para somar as forças entre os que se amam, para crescerem juntos e festejarem um dia suas permanências ao lado dele: ele saberá recompensar os que ficarem. O amor veio para perguntar ao que escolhe cada um, dia após dia, ano após ano, vida após vida, quando diz: ao que escolhes? Se responderem: — escolho a ti, amor!, ele dançará de novo e todo ruído do universo será música ao ouvido, cantada por Anjos em seus quintais. Mas se tua escolha for o temor, a covardia, a inação que é a maior representação do desviver, o amor partirá de ti para nunca mais. Então te aconselho com o amor que ainda me cabe ter: quanto ao amor, ame-o ou deixe-o.

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