“Me
tira o barco, quebra seus remos — mas deixa o mar para os meus olhos”. (Senhor, Cavalo-Marinho).
Há muito tempo escrevi essa canção.
E nela, pedia ao Criador que levasse a tudo mais, se assim Ele o desejasse. Mas
que deixasse o mar para os meus olhos. Deixasse a beleza vital que preciso para
minha contemplação. Pois a vida tem coisas feias demais! Precisamos da beleza.
Todos nós. A beleza do mar e o repetir contínuo das ondas, aquele som potente
e, ao mesmo tempo, sereno. Precisamos dos pássaros brancos pousando ao primeiro
raio de sol na areia fina. Precisamos da floresta e da imponência das árvores
ancestrais que vieram ao mundo somente para Dar, sem quase nada receberem de
nós. Precisamos da lua clara em meio ao breu da noite. Do sorriso puro de uma
criança, do gesto belo de alguém que se entrega. Se a vida tem nos dado tanto
de feio, mais ainda precisamos da beleza. Sem ela, seria insuportável continuar
indo.
Na canção diz que, ainda que eu não
possa mais navegar em uma viagem nem remar na direção que gostaria, ainda assim
quero que se mantenha o direito à contemplação do oceano à minha frente. Há
quem não entenda o muito que está contido na simples contemplação. E é
exatamente o que cada um de nós precisa, de tempos em tempos: sentar na praia e
olhar ao mar, respirar a brisa, sentir a maresia e o sal, respirar fundo e
deixar a alma descansar de suas lutas contra a fealdade do resto. É só o que
peço agora ao Criador: deixa o mar para os meus olhos, em paz.
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