A
Bruxa má do Centro-Oeste construiu uma Boneca linda. Tinha a altivez das
princesas e se movia quase sem tocar o solo sagrado onde fez morada, a Louca. Tinhas
mãos frias mas um olhar incendiado pelas cores que levava e eram três. Tinha
pés descalços e gelados, bem torneados, claros também. No lugar do coração, a
Bruxa colocou uma esponja, a fim de absorver tudo que sentissem de bom pela
boneca. Mas ela em si, nada sentia. Levava consigo a ausência de alma. Só que era tão bonita, que todos queriam brincar com ela e o
fizeram. Foram 18. Até que veio a Louca que habitava o terraço para ficar
sempre perto do céu. Olhou e sentiu algo inesperado. A boneca comeu aquilo e se
animou, porque era muito, muito bom! Encheu a esponja daquilo que a Louca lhe
dava. E gostou de causar aquilo na Louca. Ego ela tinha sim: espelhos, então! Muito. Porque
fora feita para isso, para encantar e devorar coração de quem tinha um. Ela não
tinha. Era feita da mesma matéria prima da pedra. Nada a abalava. Ela jamais
reagia. Impávida. Impassível. Inatingível. Impossível. Mas a Louca achava, em
sua boa-vontade e prepotência, que poderia dividir seu coração gigante em dois
e dar uma metade à boneca. E foi tentando. Quanto mais amava a boneca, mais a
Bruxa se ria. E tentava mais. Amava mais. Até perder a sua metade de coração e
assistir à outra metade murchar sem vida fora de qualquer peito. Certo dia,
enquanto andava errante, perdida a esmo, a Louca encontrou com um Mago do Sul.
E ele lhe disse assim: — não vale a pena. Deixe a Boneca onde está, amaldiçoada
para sempre a nunca sentir nada. E a Louca se entregou ao pranto de cem noites.
Inundou o chão de água derramada. Aceitou que não poderia, por mais que
quisesse, mudar o destino daquela Princesa vertida numa peça qualquer. Sofreu,
mas acabou passando. E quando finalmente retornou para o terraço, sua morada
louca, se encolheu num canto e abraçou a noite. Agora tinha alguém.
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