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sábado, 21 de janeiro de 2017

A Bruxa. A boneca. A Louca.


A Bruxa má do Centro-Oeste construiu uma Boneca linda. Tinha a altivez das princesas e se movia quase sem tocar o solo sagrado onde fez morada, a Louca. Tinhas mãos frias mas um olhar incendiado pelas cores que levava e eram três. Tinha pés descalços e gelados, bem torneados, claros também. No lugar do coração, a Bruxa colocou uma esponja, a fim de absorver tudo que sentissem de bom pela boneca. Mas ela em si, nada sentia. Levava consigo a ausência de alma. Só que era tão bonita, que todos queriam brincar com ela e o fizeram. Foram 18. Até que veio a Louca que habitava o terraço para ficar sempre perto do céu. Olhou e sentiu algo inesperado. A boneca comeu aquilo e se animou, porque era muito, muito bom! Encheu a esponja daquilo que a Louca lhe dava. E gostou de causar aquilo na Louca. Ego ela tinha sim: espelhos, então! Muito. Porque fora feita para isso, para encantar e devorar coração de quem tinha um. Ela não tinha. Era feita da mesma matéria prima da pedra. Nada a abalava. Ela jamais reagia. Impávida. Impassível. Inatingível. Impossível. Mas a Louca achava, em sua boa-vontade e prepotência, que poderia dividir seu coração gigante em dois e dar uma metade à boneca. E foi tentando. Quanto mais amava a boneca, mais a Bruxa se ria. E tentava mais. Amava mais. Até perder a sua metade de coração e assistir à outra metade murchar sem vida fora de qualquer peito. Certo dia, enquanto andava errante, perdida a esmo, a Louca encontrou com um Mago do Sul. E ele lhe disse assim: — não vale a pena. Deixe a Boneca onde está, amaldiçoada para sempre a nunca sentir nada. E a Louca se entregou ao pranto de cem noites. Inundou o chão de água derramada. Aceitou que não poderia, por mais que quisesse, mudar o destino daquela Princesa vertida numa peça qualquer. Sofreu, mas acabou passando. E quando finalmente retornou para o terraço, sua morada louca, se encolheu num canto e abraçou a noite. Agora tinha alguém.

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