Tenho
chamado por ti esperando que possas me ouvir de onde tu estejas. Não sei onde
estás. Mas sinto ainda, depois de tanto tempo, tuas mãos gentis e quentes sobre
minha cara quando eu caía. Vinhas alentar, socorrer, cuidar de mim. Trazias um
copo com água e açúcar e não dizias nada a não ser. . . filha, toma. E
esperavas que eu adormecesse de novo. Tenho sentido tua falta, porque viver
cansa e minha luta tem sido tão inglória, tão injusta, tão solitária — como as
tuas lutas foram, tentando salvar os desistentes, os errantes, os entregues à
perdição. Tenho pedido para sonhar contigo. Como queria sonhar contigo. Te ver
e poder, mesmo que em sonho, chorar no teu colo e descansar. Mas me deixaste um
legado, um tesouro certeiro que anunciavas muito antes de haver qualquer
destino. Um endereço onde bater quando o chão abaixo de mim ruísse por inteiro.
Estou aqui. Meus olhos estão exaustos de verem tanta fealdade na vida de onde ela
não deveria vir. Minhas mãos estão vazias, meu coração destruído, minha alma
desiludida. O chão ruiu de fato. Porque me ensinaste a ser fiel à verdade,
andei desbravando por aí procurando por alguém que também dissesse a verdade. E
caí. Agora ela me faz companhia. Nua como é, crua como se oferece à boca,
concreta. E por sobre a verdade vou deitar esta noite, de novo querendo que me
venhas em sonho e me repitas: filha, toma — mais que o copo, a tua mão me
conduzindo.
Necka
Para
Olinda.
06/01/2017
Dia
do Fim
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