Procurei
a maldade. Queria saber que rosto ela possuía. Julgava que maus seriam aqueles
de faces assustadoras que passavam pela rua, de repente. E temia. Olhei num
rosto desdentado, tentando achar traço de qualquer coisa de maldade. Não havia.
Havia um sorriso torto e, ali, era carência, só ela. Andei mais. Deparei com um
rosto sério e carrancudo. Ali, uma amargura é que desenhava um contorno sombrio
e fechado como o tempo que se nublava acima de mim, só isso. Correndo da chuva
que vinha, tropecei num outro semblante quieto que fitava a calçada. Era um
silêncio, só ele. Quando o vento soprou mais e mais forte, quase levantando do
solo as coisas todas, o lixo, os papéis e os restos, procurei abrigo e parei.
Ao lado havia outros fugindo do vento e da tempestade. Um olhar me chamava a
atenção. Era raivoso, mas era de solidão. Também havia uma face maquilada que
tentava esconder seu desajeito diante da vida. E mais um jovial, que até
inspirava simpatia, mas ao olhar mais para seu interior, era um rosto apenas,
ainda vazio que nada sabia. Depois de tudo, quando já desistia de procurar,
encontrei finalmente a real aparência da maldade. Tinha olhos de três cores. Num
primeiro momento, dava a impressão do contrário — da beleza pura, da leveza, da
serenidade. Mas bastava aprofundar e observar, para ver que não: num abraço de
“vai ficar tudo bem” que dera em algum desavisado, cravou-lhe um punhal pelas
costas, sorriu e foi-se embora.
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