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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Continuidade . . .

Nada compreendia sobre a palavra em si, simples como é — continuidade. Ainda que o criador tivesse colocado em seu caminho tantos avisos, sinais e, num gesto de infinita compaixão, tivesse posto ao lado um guia, não adiantava. A palavra não lhe dizia nada. Ainda que vivesse nas alturas assistindo à continuidade das nuvens e dos ares que sustentavam asas, não via. Mesmo fitando ao mar e aquela repetição rimada e certa das ondas, não as ouvia. Embora tivesse vivido a vida em plena continuidade, indo sempre mais além, nem assim identificava dentro, a preciosa lição da palavra. E por permitir que fosse cortado o fluxo, que fosse interrompida a continuidade do que estava aprendendo, perdeu tanto que já não podia mensurar: foi-se a intimidade, o elo de ligação, a conexão com o que havia de mais sagrado e limpo, foi-se a naturalidade da cena que deu lugar à dúvida de não mais saber como agir. Dali em diante, daquele ponto de corte, não sabia mais como proceder, falar, escolher, chegar . . . o que dizer, como? E o que encontraria? Por não continuar, perdera a tudo, à soma do tempo decorrido que, a partir dali, já era outro, não mais o primeiro tempo longo e bonito, cheio de lembranças. Foi-se a história. Perdera o calendário da própria vida. E datas, coisas queridas que vinham junto ao longo do tempo. Perdera a todo o resto somente por ter perdido o senso e o conceito da palavra “continuidade”. E o pior de tudo era nem ter compreendido ainda, quanta coisa se ia junto embora dali. Deixou que a foice caísse reta e definitiva sobre uma continuidade de anos somados tanto no festejo quanto do desafio que viver oferecia. Foi covarde e cedeu aos apelos da maldade. Foi vil e expulsou de perto aquilo que suplicava por um único gesto de confirmação. Um só. Um. E não veio. Sobreveio sim, o aborto de uma vida que estava prestes a acontecer – bastava que confirmasse sua permanência no “pagar pra ver”; bastava que continuasse andando para que houvesse estrada, rumo, caminho, chegada e eternidade. Bastava prece para ver milagre. Bastava atitude para ver resultado. Bastava amor para ver nascer um novo dia mais pleno, mais leve e de toda comunhão. Mas não. E agora?

Necka.

17/01/2017

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