Venha
— a primeira fresta está aberta. A lua, no meio do meu céu, clareia seu
caminho, venha! O vento que sopro por esta janela faz saírem de perto as poucas
nuvens que restavam. Enquanto vens, trato de limpar vestígios de amores findos,
de polir palavras e caçar novas, somente para seus ouvidos. E eles chegarão
abertos e dispostos. Até lá, minha voz já estará refeita dos arranhões recentes
e da minha displicência em não cuidar dela. Agora cuido. Cuido de mim que
espero serenamente pela sua vinda. Venha! Já adivinho a cor dos seus cabelos —
assemelhados à noite. Já sei que ondulam qual onda de mar. E me contaram, meus
sonhos, que um sorriso constante lhe enfeita a cara. Venha. O espelho que ainda
guardo livre nos olhos, aguarda refletir . . . Enquanto vens, perdôo, deixo ir
as coisas cegas que me acercavam. Deixo morrerem de fome os desvarios e os
medos. A loucura que me açoitava a alma branda, exigi que fosse embora. Chamei
meus guias, meus anjos todos e os coloquei à frente para que abram caminho. Venha!
Meu coração inteiro, amplo e amoroso já deixou a primeira fresta aberta.
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