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domingo, 22 de janeiro de 2017

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Mais um rosto passa a habitar os álbuns de fotografias. Se vai da realidade para aquilo que existiu e cumpriu a passagem. Não me sinto triste, não mais. Porque sei que tudo que vem, uma vez deixado de regar e confirmar, parte: quanto menos alimentamos, mais cedo completa a partida. Não me sinto triste porque entendo que, aquilo que jamais foi verdadeiro, não poderia, ainda que eu quisesse muito e cuidasse e vestisse, evitar o despir de máscaras que traz a verdade à tona. O que não foi amor, não foi. Quando ele é, permanece necessário e conforta. Concede e oferece mais. Educa e confere consistência.

Mais um cheiro deixa de passear em meus ares e se esvai na tormenta passageira para longe. Vento que passa entre as minhas mãos. Profética minha arte anuncia ao que vem e nunca percebo. Mas aceito. Viver me deu resiliência. E compaixão até demais.

Mais uma história finda sem final feliz. Nenhuma história que foi feliz e finda, termina faceira seus dias de exercício. Observo ao que veio com ela, sua trajetória, suas características. E a deixo ir, se assim o quer. Não me sinto triste, não mais. Compreendo a busca incessante de quem só caça àquilo que diverte e passa. Mas permaneço em profundo compromisso com aquilo que encanta e se eterniza. Para quem tanto quer fazer de sua vida a pena ao sabor do vento, ofereço até a parte de vento que era minha e sopro: vai! Porém eu, afeiçoada com laços estreitos que sustentam minhas pernas em plena tempestade, apaixonada que sou pelas raízes engendradas na terra mãe que me prepara o leito infindo, cultivo! Semeio. Adubo. E com os pés firmes no solo da minha pátria, ostento minha bandeira tecida pelas mãos do Criador: escolho ao Amor e fico!

Mas uma chegada nova se anuncia. Espero. Enquanto isso, é hora de limpar os resíduos das coisas abandonadas no caminho. Tirar os obstáculos da frente. Erguer os olhos para o céu azul que tenho e agradecer pelo vivido, pelo tido, pelo posto, pelo amado, pelo sido! Fui muito mais de mim enquanto estive ali, naquela parte de vida que escreve um ponto final. E serei ainda mais agora, livre e inteira, pronta e sementeira. Podes vir quando for a hora agendada pelo destino. Já terei achado um armário novo para os álbuns e para os livros de história que já li. Passaram. Vens. Estarei aqui de braços abertos entregues ao futuro.

Necka

23/01/2017

Um comentário:

  1. Lindo, minha querida amiga! Estou aqui com meu ombro para deixar escorrer tuas lágrimas! Bjs

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