A
Ela se exerce através da ponte construída pela Contemplação. Está lá o objeto
que nos encanta e fascina e, nossas horas de maior leveza, são aquelas
dedicadas a contemplar, enquanto sentimos nossos olhos sendo lavados, aliviados
de suas machucaduras e nossa alma devolvida ao preenchimento. A Ele, por outro
lado, se exerce tendo o mesmo objeto. Possuindo e nos deixando possuir. Os
olhos vão fechados pois não é o momento deles, nem da alma — mas da natureza
ancestral que precede a tudo. Viver o desejo é trazer para a própria satisfação
aquilo que num dado momento nos atiça aos sentidos. A Paixão é abstração e o
Desejo é concretude. Ela é a Música e Ele o instrumento.
Ela,
depende apenas da generosidade pontual dos encontros. Esbarrar subitamente num
pôr-de-sol ou perceber que formou-se arco-íris que há tempos não víamos depois
do temporal. E de repente paramos e nos damos conta do quanto apreciamos ao que
vemos. Suspiramos e isso nos devolve alguma paz. Ele depende diretamente do que
se obtém nos encontros. Tê-los. Nos apropriar e nos deixarmos ser propriedade,
ainda que saibamos que há um prazo definido para essa experiência. Ela é a
permanência, ele é a saciedade passageira.
Com
ela nos tornamos aptos a observar como se processam nossas engrenagens. Se nos
descobrimos apaixonados pela natureza, entenderemos — a partir de nossa
auto-observação que, para estarmos bem, de tempos em tempos precisaremos
visita-la: tocar a grama, entrar no mar. Ao lado dela, conheceremos os anseios
mais lúdicos e encantados de nossas almas. Os que nos desenham sorrisos na
cara, assim, sem mais nem menos. E que permanecem mesmo depois que os objetos
partem. A ele, ao desejo, só interessam o ego e sua voracidade: precisamos
urgentemente atender às suas demandas. E a voracidade cega em vez de lavar aos
olhos e coloca a alma para dormir, enquanto alimenta ao nosso corpo primitivo.
E não há mal nenhum em darmos ao corpo o que a ele interessa. Mas paixão e
desejo são coisas distintas, tendo funções diferentes e servindo a propósitos
diferentes, como o amor e a amizade, a fé e a espiritualidade.
A
paixão é para ser sentida profundamente na admiração. O desejo é para ser
vivido apenas até ser satisfeito. E, ao contrário do que se pensa, ele pode sim
durar por muito tempo! Desde que ambas as partes promovam o que seja necessário
para sua longevidade.
Porque
somos plurais e cada parte que perfaz o nosso todo tem sua importância no
conhecimento de nós mesmos. Somos Amor, Amizade, Paixão, Desejo, Fé,
Espiritualidade, Equívoco e Perdão, Assertivos e Humanos, Mundanos e Celestes.
Necka.
25/01/2017
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