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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Paixão & Desejo

A Ela se exerce através da ponte construída pela Contemplação. Está lá o objeto que nos encanta e fascina e, nossas horas de maior leveza, são aquelas dedicadas a contemplar, enquanto sentimos nossos olhos sendo lavados, aliviados de suas machucaduras e nossa alma devolvida ao preenchimento. A Ele, por outro lado, se exerce tendo o mesmo objeto. Possuindo e nos deixando possuir. Os olhos vão fechados pois não é o momento deles, nem da alma — mas da natureza ancestral que precede a tudo. Viver o desejo é trazer para a própria satisfação aquilo que num dado momento nos atiça aos sentidos. A Paixão é abstração e o Desejo é concretude. Ela é a Música e Ele o instrumento.
Ela, depende apenas da generosidade pontual dos encontros. Esbarrar subitamente num pôr-de-sol ou perceber que formou-se arco-íris que há tempos não víamos depois do temporal. E de repente paramos e nos damos conta do quanto apreciamos ao que vemos. Suspiramos e isso nos devolve alguma paz. Ele depende diretamente do que se obtém nos encontros. Tê-los. Nos apropriar e nos deixarmos ser propriedade, ainda que saibamos que há um prazo definido para essa experiência. Ela é a permanência, ele é a saciedade passageira.
Com ela nos tornamos aptos a observar como se processam nossas engrenagens. Se nos descobrimos apaixonados pela natureza, entenderemos — a partir de nossa auto-observação que, para estarmos bem, de tempos em tempos precisaremos visita-la: tocar a grama, entrar no mar. Ao lado dela, conheceremos os anseios mais lúdicos e encantados de nossas almas. Os que nos desenham sorrisos na cara, assim, sem mais nem menos. E que permanecem mesmo depois que os objetos partem. A ele, ao desejo, só interessam o ego e sua voracidade: precisamos urgentemente atender às suas demandas. E a voracidade cega em vez de lavar aos olhos e coloca a alma para dormir, enquanto alimenta ao nosso corpo primitivo. E não há mal nenhum em darmos ao corpo o que a ele interessa. Mas paixão e desejo são coisas distintas, tendo funções diferentes e servindo a propósitos diferentes, como o amor e a amizade, a fé e a espiritualidade.
A paixão é para ser sentida profundamente na admiração. O desejo é para ser vivido apenas até ser satisfeito. E, ao contrário do que se pensa, ele pode sim durar por muito tempo! Desde que ambas as partes promovam o que seja necessário para sua longevidade.

Porque somos plurais e cada parte que perfaz o nosso todo tem sua importância no conhecimento de nós mesmos. Somos Amor, Amizade, Paixão, Desejo, Fé, Espiritualidade, Equívoco e Perdão, Assertivos e Humanos, Mundanos e Celestes.

Necka.
25/01/2017

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