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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Ahora


Que dure, que prossiga, que anoiteça e desvende o beijo, à madrugada. ...e que tua boca sorva o vinho, se contagie e se embriague. Que beba o sumo, o aroma e a vastidão da leveza. Injete a essência, a pureza, o extrato da vida em plena veia. Dispa a tudo isso e vista o avesso do que tens sido. Nada tens agora, nada tens tido. A hora te espera enfeitada e refeita. Já é outro dia. Está aí. Dentro. A centelha de vida que ainda resta, a fresta por onde se vence a represa. Que tua mão se desarme, que teus domínios se rendam, que bebas mais e mais possas. Que quanto mais dês, mais tenhas. A noite é espessa e te aguarda pronta e tesa. Apenas não tens ido a ela como vais para longe, determinada a fugir da própria descoberta. Mas aquele que foge, desposa a escuridão. Sóbrio, não dança nem se desnuda. Permanece quieto numa constância infinita de coisas vazias. Que tuas pernas suspendam um pouco esses passos errantes e tua voz se prive por alguns instantes das palavras inúteis — o que elas te dão? Mais do nada. Entrelaça! Toma da taça que devolve o tremor essencial à manutenção da euforia. Goza do que quer profundeza e tem tempo para gastar no teu corpo. Consome! Dá outro gole e mais um, até que tudo em ti possa render-se de novo ao que, de tanto esperar, já se fez outro. Já és outra. Não minha. Nem tua. E só bastaria um único gesto para que tudo ao teu entorno unisse o passado ao segundo de agora. O tempo te espera. E esperas por ele, eternamente. Enquanto a hora certa não te vir nua a chamar por ela, ela não vem.

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