Que
dure, que prossiga, que anoiteça e desvende o beijo, à madrugada. ...e que tua
boca sorva o vinho, se contagie e se embriague. Que beba o sumo, o aroma e a
vastidão da leveza. Injete a essência, a pureza, o extrato da vida em plena
veia. Dispa a tudo isso e vista o avesso do que tens sido. Nada tens agora,
nada tens tido. A hora te espera enfeitada e refeita. Já é outro dia. Está aí.
Dentro. A centelha de vida que ainda resta, a fresta por onde se vence a
represa. Que tua mão se desarme, que teus domínios se rendam, que bebas mais e
mais possas. Que quanto mais dês, mais tenhas. A noite é espessa e te aguarda
pronta e tesa. Apenas não tens ido a ela como vais para longe, determinada a
fugir da própria descoberta. Mas aquele que foge, desposa a escuridão. Sóbrio,
não dança nem se desnuda. Permanece quieto numa constância infinita de coisas
vazias. Que tuas pernas suspendam um pouco esses passos errantes e tua voz se
prive por alguns instantes das palavras inúteis — o que elas te dão? Mais do
nada. Entrelaça! Toma da taça que devolve o tremor essencial à manutenção da euforia.
Goza do que quer profundeza e tem tempo para gastar no teu corpo. Consome! Dá
outro gole e mais um, até que tudo em ti possa render-se de novo ao que, de
tanto esperar, já se fez outro. Já és outra. Não minha. Nem tua. E só bastaria
um único gesto para que tudo ao teu entorno unisse o passado ao segundo de
agora. O tempo te espera. E esperas por ele, eternamente. Enquanto a hora certa
não te vir nua a chamar por ela, ela não vem.
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