Ouve.
Ouve desta vez, pois chega de repetir. Não quero palavras. Nem as poucas nem as
excessivas que nada dizem — não podem, quando nada há. Não quero que aches a
nada. Nem me apraz te ver buscando, analisando à lua cheia no céu cinzento.
Quero que sintas a luz da lua em ti e que saibas manter essa luz depois que a
lua se for. Se sabias e não sabes mais, nada posso fazer por ti que perdeste,
antes, a ti. E se perdeste, também eu te perdi— nenhuma mais de nós te sente,
te vê, te reencontra nas coisas sagradas que jogaste para longe. Longe. Esta é
a única palavra que deverias entender de todo coração. Longe. O que se afasta,
o que segrega, o que separa, não pode jamais fazer a ninguém feliz. De longe
não é possível unir retinas de cores distintas numa só. De longe não se tem
como sentir de volta aquilo que já alimentou asas e coragens. Quando a gente
mata algo da forma como foi morto aquilo que havia, é definitivo o pesar que
fica no lugar. Onde havia a vontade de estar junto, colocaste a vontade de
estar longe. Como isso pode fazer alguém feliz? Nem a ti, muito menos a mim.
Ouve desta vez: os tempos não voltam, porque não volta a habitar em teus olhos
a visão amorosa que pousavas sobre tudo. Tens outros olhos agora. E nada mais
daquilo, pertence a eles nem os pode encantar mais. A ponte que ligava aquelas
duas foi implodida. A força dos braços, exaurida. O coração afável e bobo,
cortado em mil pedaços minúsculos. Perdeste ao que ele tinha por ti,
ao Bem Querer que te fazia sorrir todas as manhãs. Por que jogaste para longe,
não sei. Jamais saberei. Apenas e tão somente é assim. Estrela sem céu.
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