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quinta-feira, 23 de março de 2017

Partes do Todo

Sou grata ao Pai, Criador de Todas as Coisas que habita no todo da extensão do termo “EU SOU”, por me permitir ser quem eu sou. Por me dar a liberdade de sentir tudo que sinto. De ser tanto grande, quanto, às vezes, pequena. Tanto altruísta, quanto, por vezes, egoísta. Por me deixar experimentar que gosto quero ter na profundeza da Alma e escolher com qual me identifico, a qual deles quero repetir mais vezes: o gosto ácido que fica quando o egoísmo me toma ou o doce sabor da partilha, quando é o contrário que faço. Por me oferecer tanto a estatura de mim mesma quando me elevo, quanto o canto da casa quando me apequeno e me encolho nos gestos enfermos — e me deixar sentir qual dessas estaturas me causa alegria. Sou grata ao meu Eu Superior por tamanha generosidade: de colocar tanto ao Abismo quanto ao Céu na mesma cena e,  —como se não bastasse ter a ambas, me convida e aceita minha decisão de visitar as duas. E espera que eu decida, e propõe aprendizados em ambas as escolhas! Sou grata a Minha Divina Presença Eu Sou, por ampliar a cada dia mais minha percepção real, limpa e refeita depois de cada experiência. Grata pela proteção, pela rigidez das lições cuja forma bruta gravará para sempre o que se deve apreender delas. Grata por ter bebido tanto da taça inteira do Amor vivido, quanto do vazio da taça esvaziada quando o Amor se foi dali. E ambas as vivências me forjaram o caráter, a lealdade e a capacidade de amar. Grata pelas noites solitárias e repletas de saudades por todos os lados, que me levaram a buscar na Fé o Refúgio mais seguro, ainda que parecesse naquele momento, o mais abstrato. Ali, encontrei a mim mesma vagando e tateando o caminho até achar Luz. E achei. Grata, imensamente grata, por ter atravessado a cada etapa de vida com dignidade, com coragem, movimento, determinação — pois daquilo que se confirmou como sólido e amoroso, posso responder com meu pedido: fica! E daquilo que se verteu em escombros, posso me despedir em paz. E até nisso há gratidão: por poder deixar partir aquilo que provou não ser. Sou grata por haver semelhantes mãos que se vinculam aos mesmos teares, tecendo os pedaços da vida na temperança. Por existirem mãos alquimistas que trocam experimentos e, juntos, produzem o sumo dos encantamentos. Por encontrar mãos que giram a roda na intenção de recolocar cada um de nós em seu merecido lugar. Mãos semeadoras que também estarão nas colheitas. Sou grata por cada uma das Divinas Presenças que trabalham comigo na lapidação, até que de mim se extraia a mais alva das faces, a mais louca, a mais linda e vívida plenitude. Grata à mão que me fere, pois tanto me faz valorizar a mão que me cura, quanto me ensina que dor e alívio são duas expressões necessárias ao entendimento da face que tenho. Minha face carece conhecer-se. Grata à palavra que me acusa e condena, tanto quanto ao poema melódico que me embala, pois ambas falam mais sobre quem as pronuncia, do que sobre mim. Assim entendo que nada é pessoal — não sou alvo, ainda que me tomem por um. Sou ponte por onde as coisas dos outros passam às vezes. Sou grata ao Universo que me concedeu o dia de hoje em que tanto me apequenei — um pouco, quanto me engrandeci nas descobertas e escolhas que fiz sobre mim, meus limites e minhas aspirações. Ao Pai, meu Deus Amado, que assistiu comigo ao desdobramento de cada hora lenta ou veloz. Grata a quem ouviu minhas preces transbordadas: tanto as de gratidão, quanto as de despedidas, permitindo que eu provasse do sal das duas e me alimentasse dos teores que trouxeram, cada quais, os seus. Venta forte agora. E sinto o alívio de me saber humana ao mesmo tempo que Eu Sou a Divina Presença. E ambas seguirão lado a lado eternidade afora, sem jamais se apartarem uma da outra — assim fui, assim sou, assim serei: o todo de mim na soma de todas as partes.

Necka Ayala

23/03/2017 

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