Sou
grata ao Pai, Criador de Todas as Coisas que habita no todo da extensão do
termo “EU SOU”, por me permitir ser quem eu sou. Por me dar a liberdade de
sentir tudo que sinto. De ser tanto grande, quanto, às vezes, pequena. Tanto
altruísta, quanto, por vezes, egoísta. Por me deixar experimentar que gosto
quero ter na profundeza da Alma e escolher com qual me identifico, a qual deles
quero repetir mais vezes: o gosto ácido que fica quando o egoísmo me toma ou o
doce sabor da partilha, quando é o contrário que faço. Por me oferecer tanto a
estatura de mim mesma quando me elevo, quanto o canto da casa quando me
apequeno e me encolho nos gestos enfermos — e me deixar sentir qual dessas
estaturas me causa alegria. Sou grata ao meu Eu Superior por tamanha generosidade:
de colocar tanto ao Abismo quanto ao Céu na mesma cena e, —como se não bastasse ter a ambas, me convida
e aceita minha decisão de visitar as duas. E espera que eu decida, e propõe
aprendizados em ambas as escolhas! Sou grata a Minha Divina Presença Eu Sou,
por ampliar a cada dia mais minha percepção real, limpa e refeita depois de
cada experiência. Grata pela proteção, pela rigidez das lições cuja forma bruta
gravará para sempre o que se deve apreender delas. Grata por ter bebido tanto
da taça inteira do Amor vivido, quanto do vazio da taça esvaziada quando o Amor
se foi dali. E ambas as vivências me forjaram o caráter, a lealdade e a
capacidade de amar. Grata pelas noites solitárias e repletas de saudades por
todos os lados, que me levaram a buscar na Fé o Refúgio mais seguro, ainda que
parecesse naquele momento, o mais abstrato. Ali, encontrei a mim mesma vagando
e tateando o caminho até achar Luz. E achei. Grata, imensamente grata, por ter
atravessado a cada etapa de vida com dignidade, com coragem, movimento,
determinação — pois daquilo que se confirmou como sólido e amoroso, posso
responder com meu pedido: fica! E daquilo que se verteu em escombros, posso me
despedir em paz. E até nisso há gratidão: por poder deixar partir aquilo que
provou não ser. Sou grata por haver semelhantes mãos que se vinculam aos mesmos
teares, tecendo os pedaços da vida na temperança. Por existirem mãos
alquimistas que trocam experimentos e, juntos, produzem o sumo dos
encantamentos. Por encontrar mãos que giram a roda na intenção de recolocar
cada um de nós em seu merecido lugar. Mãos semeadoras que também estarão nas
colheitas. Sou grata por cada uma das Divinas Presenças que trabalham comigo na
lapidação, até que de mim se extraia a mais alva das faces, a mais louca, a mais
linda e vívida plenitude. Grata à mão que me fere, pois tanto me faz valorizar
a mão que me cura, quanto me ensina que dor e alívio são duas expressões
necessárias ao entendimento da face que tenho. Minha face carece conhecer-se.
Grata à palavra que me acusa e condena, tanto quanto ao poema melódico que me
embala, pois ambas falam mais sobre quem as pronuncia, do que sobre mim. Assim
entendo que nada é pessoal — não sou alvo, ainda que me tomem por um. Sou ponte
por onde as coisas dos outros passam às vezes. Sou grata ao Universo que me
concedeu o dia de hoje em que tanto me apequenei — um pouco, quanto me
engrandeci nas descobertas e escolhas que fiz sobre mim, meus limites e minhas
aspirações. Ao Pai, meu Deus Amado, que assistiu comigo ao desdobramento de
cada hora lenta ou veloz. Grata a quem ouviu minhas preces transbordadas: tanto
as de gratidão, quanto as de despedidas, permitindo que eu provasse do sal das
duas e me alimentasse dos teores que trouxeram, cada quais, os seus. Venta
forte agora. E sinto o alívio de me saber humana ao mesmo tempo que Eu Sou a
Divina Presença. E ambas seguirão lado a lado eternidade afora, sem jamais se
apartarem uma da outra — assim fui, assim sou, assim serei: o todo de mim na soma
de todas as partes.
Necka
Ayala
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