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quase tudo que venha de ti, entendo. A despeito dos semelhantes que questionam
coisas sobre as quais encontrei respostas. A quase tudo, repito a ti: entendo.
E como é bom entender — é o que nos permite, a todos, que sigamos, conformados,
resignados e abraçados à resiliência: prêmio dado a quem resiste e persiste. Entender,
liberta um pouco nossas amarras. Crescer, liberta mais. É só às vezes, quando o
instante do tempo que é o nosso se alonga em teu silêncio, que faz falta a tua
palavra, o teu sinal, a data em algum calendário que possamos daqui, enxergar.
É quando nos vemos exaustos — e no livro diz que descansaremos à tua sombra,
que faz falta a tua confirmação. Hoje, eu queria entender. Sei, creio, confio
que estás preparando a mesa onde me sentarei daqui a pouco. Mas me faz uma
falta enorme agora, entender. O que faz um irmão meu escolher vagar errante por
tanto tempo, esbarrando com seus próprios muros, coberto de correntes às quais
arrasta no peso eterno? O que o faz paralisado nas grades de seus próprios
medos, quando poderia livrar-se, elevar-se, voltar à leveza que procura
inutilmente? Sinto pena, Oh Pai. Um quase-nada de compaixão que lastima, que se
apieda ainda, desesperançosa. Deste olhos e a cegueira interna acometeu de
insanidade ao peito? Deste a vontade e ela se converteu em seu lado avesso,
tornando-se um querer insaciável por coisas sem valia? Sim? É dessa devastação
que me dizes agora? É por ela que pranteio. Pela Expiação de quem eu tinha
apreço e assisto disparar seus armamentos desalmados. Pelo irmão de quem me
despeço para que responda por seus juramentos feitos ao nada. Não há nada ali
que aos meus olhos seja permitido ver. Só tu podes. E só a ti será dada a
prestação de contas final de tudo quanto vague a esmo. Mas saber disso não me alivia
a angústia de testemunhar à perdição da alma do outro. Não me isenta do
fracasso em ter tentado o inverso: testemunhar o crescimento e à lapidação
daquela pedra bruta até que formasse jóia rara. Eu não entendo. E te peço com
todas as minhas preces ditas uma vez mais ainda hoje, que me fales, que me
envies teus anjos e seus sinais nítidos e certeiros. Eu sei, me dizes: espera! Espero.
Apenas tombo às vezes, querido, de cansaço e de rouquidão. Meus cânticos andam
rotos de tanto entoarem melodias a quem não ouve. E meu coração está enfermo
por acompanhar de perto a tanto desvario. Quando vi meu irmão substituir todos
os sentidos dados, por um único e ensimesmado deleite, caí de espanto. Ainda
pasmo. Ainda doem os ossos dessa queda. Eu só queria entender, Pai. Se tu que
és o Criador de todas as coisas, como podes permitir que se descrie o teu gesto
mais sublime, de uma Alma habitando a um ser tornado humano? É escolha dele, eu
sei. Te ouço falar na quietude que encontro. Mas é triste. Sinto pena e me
recolho nos braços quietos da noite.
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