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sábado, 11 de março de 2017

Salmos


A quase tudo que venha de ti, entendo. A despeito dos semelhantes que questionam coisas sobre as quais encontrei respostas. A quase tudo, repito a ti: entendo. E como é bom entender — é o que nos permite, a todos, que sigamos, conformados, resignados e abraçados à resiliência: prêmio dado a quem resiste e persiste. Entender, liberta um pouco nossas amarras. Crescer, liberta mais. É só às vezes, quando o instante do tempo que é o nosso se alonga em teu silêncio, que faz falta a tua palavra, o teu sinal, a data em algum calendário que possamos daqui, enxergar. É quando nos vemos exaustos — e no livro diz que descansaremos à tua sombra, que faz falta a tua confirmação. Hoje, eu queria entender. Sei, creio, confio que estás preparando a mesa onde me sentarei daqui a pouco. Mas me faz uma falta enorme agora, entender. O que faz um irmão meu escolher vagar errante por tanto tempo, esbarrando com seus próprios muros, coberto de correntes às quais arrasta no peso eterno? O que o faz paralisado nas grades de seus próprios medos, quando poderia livrar-se, elevar-se, voltar à leveza que procura inutilmente? Sinto pena, Oh Pai. Um quase-nada de compaixão que lastima, que se apieda ainda, desesperançosa. Deste olhos e a cegueira interna acometeu de insanidade ao peito? Deste a vontade e ela se converteu em seu lado avesso, tornando-se um querer insaciável por coisas sem valia? Sim? É dessa devastação que me dizes agora? É por ela que pranteio. Pela Expiação de quem eu tinha apreço e assisto disparar seus armamentos desalmados. Pelo irmão de quem me despeço para que responda por seus juramentos feitos ao nada. Não há nada ali que aos meus olhos seja permitido ver. Só tu podes. E só a ti será dada a prestação de contas final de tudo quanto vague a esmo. Mas saber disso não me alivia a angústia de testemunhar à perdição da alma do outro. Não me isenta do fracasso em ter tentado o inverso: testemunhar o crescimento e à lapidação daquela pedra bruta até que formasse jóia rara. Eu não entendo. E te peço com todas as minhas preces ditas uma vez mais ainda hoje, que me fales, que me envies teus anjos e seus sinais nítidos e certeiros. Eu sei, me dizes: espera! Espero. Apenas tombo às vezes, querido, de cansaço e de rouquidão. Meus cânticos andam rotos de tanto entoarem melodias a quem não ouve. E meu coração está enfermo por acompanhar de perto a tanto desvario. Quando vi meu irmão substituir todos os sentidos dados, por um único e ensimesmado deleite, caí de espanto. Ainda pasmo. Ainda doem os ossos dessa queda. Eu só queria entender, Pai. Se tu que és o Criador de todas as coisas, como podes permitir que se descrie o teu gesto mais sublime, de uma Alma habitando a um ser tornado humano? É escolha dele, eu sei. Te ouço falar na quietude que encontro. Mas é triste. Sinto pena e me recolho nos braços quietos da noite.

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