São
muitos os cigarros nos meus olhos agora. E tudo se esfumaça comigo. Tudo se
dissolve e parte pela vidraça úmida da chuva que não pára há dias. A fumaça faz
desenhos contra o vidro. E também se dilui ali, encontrando obstáculo em seu
caminho inútil. Foi danoso prosseguir até aqui sem brilho. Fosco. Essa tua
presença agora é fosca, áspera. O que tentas mostrar é irreal, instável, não
dura, não fica, não se confirma. É fumaça também. Muitos cigarros. E horas e
mais horas perdidas em nome do nada que insistes em produzir. É cansaço, é
exaustão, é o fundo do poço, o fim da viagem. E teu coração é um órgão
aprisionado dentro do corpo cancelado de vida. Não pulsa, não consegue, não
alimenta; tentas dar a ele alguma validade — mas ele não acredita mais em ti. E
se dilui não sendo ele quem veio ser. São muitos os cigarros, caros, todos
eles. É quando suspiro profunda e mortalmente. A fumaça é minha, e fica.
29/05/2017
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