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terça-feira, 16 de maio de 2017

O Teu Silêncio

Sempre gostei do silêncio. Este. Quando os ruídos muitos cessam. E se ouve ao pouco som da brasa queimando, dos bichos roendo a madeira das portas, os segundeiros dos relógios. Este silêncio! O entoar do nada, a coisa nenhuma das coisas que findam. Estas. O resto do dia que se fragmenta, o rasgo da noite deitando ao meu lado, o frio que adentra a vidraça, essa. Este silêncio, todo ele, se traduzindo em mais nada a ser dito ou ouvido. Nenhuma voz virá nunca mais. Silêncio que grita e nem eco se dá, quando as palavras perdem o porquê de existirem se nada significam, não mais. O calar profundo e definitivo daquilo que não mais vive, sem pulso, sem sinais nem borboletas, sem preces ou aparições. Este. Que repete e repete o que se foi dali, de onde era e estava, habitava e ardia. Que mostra o espaço desocupado e quieto, para sempre quieto e inerte, desaparecido, desistido, inativo, cancelado no corte vil de quem empunha seus punhais afiados e comete esta sangria. Esta! Silêncio que nasceu do consentimento que assim fosse — essa carnificina de nossos corações amputados e agora . . . este silêncio.

Necka Ayala

17/05/2017

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