Sempre
gostei do silêncio. Este. Quando os ruídos muitos cessam. E se ouve ao pouco
som da brasa queimando, dos bichos roendo a madeira das portas, os segundeiros
dos relógios. Este silêncio! O entoar do nada, a coisa nenhuma das coisas que
findam. Estas. O resto do dia que se fragmenta, o rasgo da noite deitando ao
meu lado, o frio que adentra a vidraça, essa. Este silêncio, todo ele, se
traduzindo em mais nada a ser dito ou ouvido. Nenhuma voz virá nunca mais.
Silêncio que grita e nem eco se dá, quando as palavras perdem o porquê de
existirem se nada significam, não mais. O calar profundo e definitivo daquilo
que não mais vive, sem pulso, sem sinais nem borboletas, sem preces ou
aparições. Este. Que repete e repete o que se foi dali, de onde era e estava, habitava
e ardia. Que mostra o espaço desocupado e quieto, para sempre quieto e inerte,
desaparecido, desistido, inativo, cancelado no corte vil de quem empunha seus
punhais afiados e comete esta sangria. Esta! Silêncio que nasceu do
consentimento que assim fosse — essa carnificina de nossos corações amputados e
agora . . . este silêncio.
Necka
Ayala
17/05/2017
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