Me
mandaram para o Inferno. Eu fui. Foi lá que encontrei o que procurava nas
terras duvidosas do Paraíso perdido. Em muito me interessa manter à vista o que
dá água nas bocas. Na boca do estômago o frio visceral. Na boca do gol o pé
solidificado. Na boca dos lábios a gota que brota e são vários os lados que
podem meus olhos. Me mandaram sair, saí. E do lado de fora cruzei com o que
queria antes, quando dentro. E em muito me seduz aquilo que seduza e venha,
queira e possa, morda e mantenha a fome de morder em dia. São infinitas as
coisas que minha alma pode. São agora alcançáveis as coisas loucas e lindas que
só o pecado oferece. Peco em ser quem sou e peco sem reservas, sem medos — com
a Bênção de Deus que me criou sabendo. Me mandaram para o Inferno, mas não foi
Ele quem mandou: foi o seu adversário, o homem vil que se acovarda diante do
que poderia vir a ser. E em muito me chama para perto, quem se lança a si mesmo
num vôo insano e livre, indo ao encontro do seu próprio céu e deixando para
sempre varandas vazias. Em muito me fascina o que dá águas às bocas.
Necka
Ayala
Ago/2017
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