Agradeço
à Vida por ter me permitido vivê-la, simplesmente. Vivê-la guiada pelo que
dizia meu coração bobo. Vivê-la norteada pelo que queriam ver meus olhos
escuros, de luz. Vivê-la pelos vazios que buscou preencher e pela vastidão de
caminhos que intentou abrir. Agradeço à
vida por merecer vivê-la: se vim, vim com a bênção do Criador de Todas as
Coisas. Todas — nenhuma a menos. E agradeço a quem apontou-me o dedo em riste a
fim de destacar coisas minhas inaceitas, por revelar-se a si mesmo na pequenez
do que vê — assim, aprendi a ter compaixão por quem não aceita ao outro,
condenando, por tanto, a si mesmo à solidão. Agradeço à Vida pelos embates e
pelas verdades estampadas diante de minhas mãos, por ter me oferecido a
oportunidade de inventar o que fazer com elas. Ali sim, criei. E como foi
preciso valer-me dos dons que recebi para criar saídas, ideias e ideais.
Agradeço às mortes que presenciei por me falarem sobre a brevidade do tempo;
elas repetiram muitas vezes, vive, vive agora, vive tudo, sê toda de uma vez! E
de uma vez por todas, fui. Fui a despeito dos olhares limitados que observavam
a cabeça raspada sem ouvir o que de dentro dela, poderia sair de bom. Fui a
despeito das vestes que apenas me recobrem e que serviram tantas vezes para me
atribuir valor. Fui a despeito de todos os defeitos com os quais me batizaram
aqueles que ignoraram meu nome e minhas poucas ações benfazejas. Ali,
entristeci um tanto. Porque levava na Alma o desejo de semear afetos, de fazer
companhia, de cuidar de casas — ainda assim, enxergaram em mim azedume,
ingratidão, fracasso. E agradeci à Vida por ser justa diante do espelho e me
mostrar diariamente quem sou. Agradeço aos que dispensaram tantas vezes seus
dias e assuntos comigo, pois, sem querer revelaram o quanto existo e o quanto
ocupo de espaço em suas vidas. Mas agradeço ainda mais a quem não fala: sente a
mim fazendo parte de sua história de vida. Este dia, o primeiro de volta à
Terra Natal à qual jamais deixei de fato, é incomum. Há um Sol lindo lá fora, o
verdadeiro Sol possível e eternamente presente. Há um silêncio escolhido que me
restaura forças. Hoje, agradeci à minha mãe pela vida que me deu, às lágrimas.
Porque a Vida que merece ser vivida, não se trata de flores e de presentes o
tempo todo. Mas de fazeres: do que se faz com as flores e com os presentes, do
que se faz com espinhos e decepções. E meu pedido à Vida agora, é que ela entregue
a cada pessoa em dobro, precisamente o que cada pessoa me deseja. Que assim
seja, Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário