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segunda-feira, 6 de novembro de 2017


Sinto o peso das pernas nos passou que dou. Vou indo a esmo, com o amor emperrado na garganta seca; com os sentidos afetados pelo que não podem, com as palavras canceladas a fim de não causarem malefícios. Ando com a verdade encurralada por baixo de intenções veladas e desconhecidas. Sinto o peso das pernas nos passos que dou. E a tranqueira dos braços nos gestos impedidos. Tudo dói. Até o vento que passa rente à minha cabeça nua. Até a nudez das coisas que assisto envelhecerem ser poderem ser o que são. Dói sorver o ar e devolvê-lo ao mundo frio. Dói cada degrau que leva ao templo sagrado, à hospedaria. Dói a boca esquecida de cujo beijo esquece a cada dia que consumo. Tudo pesa sobreposto num oceano vasto de escombros. Nada alivia, nenhuma pílula mágica existe ou chega às minhas mãos que também doem. Tudo dói. Cansaço. Silêncio. Espera. E as certezas — essas me doem mais, porque decretam a palavra certeira, fim.

Necka Ayala - 06 de novembro 2017

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