Nem
armários. Nem apartamentos. Nem ruas, nem cidades, nem mares, nem areias
grudadas ou pores do mesmo sol noutros lugares. Nem mão dada, nem conchas, nem
cavalos-marinhos ou borboletas fincadas em seus alfinetes. Nem espelhos, nem bolinhos
pretos derretendo as bolas claras. Nem cafés, nem mesas de bar, nem rodas de
viola. Nem passagens, nem trechos, nem escadas rolantes. Nem sapateiras, nem
ferramentas, nem adornos. Nem perfumes, nem máscaras, nem bases. Sem risco no
olho, sem saias longas, sem saltos altos. Sem santropê, sem camisa branca, sem varanda.
Nem casa com piscina e capelinha, nem pétalas, nem pão na chapa. Nem São Paulo,
nem Porto Alegre, nem Brasília. Nem multiprocessador, nem tv, nem carro. Já
eras. Já fui quem fui — são outros tempos. E nesses, nem sobrenome, nem
identidade, nem aparência. Já fomos. Já esvaziou a garrafa que me continha. Nem
mútuas, nem tuas, nem eu.
Necka Ayala
30/01/2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário