Seguidores

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Lhufas


Nem armários. Nem apartamentos. Nem ruas, nem cidades, nem mares, nem areias grudadas ou pores do mesmo sol noutros lugares. Nem mão dada, nem conchas, nem cavalos-marinhos ou borboletas fincadas em seus alfinetes. Nem espelhos, nem bolinhos pretos derretendo as bolas claras. Nem cafés, nem mesas de bar, nem rodas de viola. Nem passagens, nem trechos, nem escadas rolantes. Nem sapateiras, nem ferramentas, nem adornos. Nem perfumes, nem máscaras, nem bases. Sem risco no olho, sem saias longas, sem saltos altos. Sem santropê, sem camisa branca, sem varanda. Nem casa com piscina e capelinha, nem pétalas, nem pão na chapa. Nem São Paulo, nem Porto Alegre, nem Brasília. Nem multiprocessador, nem tv, nem carro. Já eras. Já fui quem fui — são outros tempos. E nesses, nem sobrenome, nem identidade, nem aparência. Já fomos. Já esvaziou a garrafa que me continha. Nem mútuas, nem tuas, nem eu.

Necka Ayala
30/01/2018

Nenhum comentário:

Postar um comentário