Agora
não sabes onde estou. Nem sei. Um lugar qualquer como um limbo meio que sereno,
meio que indiferente a tudo isso. Horas consomem a mim que a mais nada posso —
posso andar para outro lugar, por outros rumos. Deixar a marca dos pés em
pedras nunca antes vistas. Posso andar ainda. Mais. Não sabes onde estou, nem
como. Nem eu sei. Apenas aguardo a decisão que não vem totalmente de mim.
Guardo dentro a história toda, da vida toda, essa coisa intensa demais, densa
feito óleo sobre os olhos, como onda que se agiganta diante de mim. Nada tenho
a fazer além de andar. Tempo que passa, coisas que se vão de tanto que ficaram esperando
por vir. Nem eu sei o que quero. E ao imaginar ao que definitivamente não
quero, escolho isso, essa coisa por ver, por conhecer, por experimentar. I need
some pills cause the city can`t sleep. Agora não vês onde estou. Nem vejo.
Nublam as retinas exaustas, tornam-se foscas contra a incisão de brilho que se
impõe. Às vezes acho que quero, às vezes
acho que não. Às vezes olho para esta cidade e me pergunto somente por quê? Por
que escolheram facas e deixaram escapar de novo a promessa de redenção? Olho
para esta cidade e me conformo com o destino que tudo isso terá, como se fora
alguém que já se foi e assiste à cena sabendo que logo terá um fim. Assim
quiseram. A sensação de finitude, o conhecer a si mesmo estando de frente à
própria despedida. E nada dói nesse instante claro. Conheci a mim, estive
contigo por um tempo demasiado inesperado. Fiz o que queria, senti mais do que
supunha possível, disse todas as verdades, me atirei ao fundo do fundo que o
fundo nem sabia de si. E trouxe de lá coisas sagradas, transformadas por um
coração tanto bobo quanto fraco, batendo fora do ritmo. Me disseram uma vez que
a força estava nisso, em converter o feio e o triste em partitura e palavra.
Achei bom. Gostei de ter sido o que fui quanto a esse ofício. Gostei de ti por
muito, muito tempo. E agora não sei onde estás. Nem tu sabes. Vamos indo assim
mesmo — Elusive. Como fôssemos asas soltas ao vento e, de repente, de súbito,
passássemos uma pela outra sem querer. Fico daqui vendo teus vôos, tuas idas,
tentando imaginar como são. Ficas daí vendo minhas andanças, minhas pequenas
enormes vitórias diárias contra a loucura. Pendulares paralelas em meio ao breu
da noite. Hoje somos assim simplesmente sem termos acertado a nada. Se houver
amanhãs não quero saber quanto seremos nem onde estaremos. Agora, só o silêncio
infinito me acomoda e me sossega.
Necka
Ayala
10/11/2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário