Seguidores

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Sugar City


Agora não sabes onde estou. Nem sei. Um lugar qualquer como um limbo meio que sereno, meio que indiferente a tudo isso. Horas consomem a mim que a mais nada posso — posso andar para outro lugar, por outros rumos. Deixar a marca dos pés em pedras nunca antes vistas. Posso andar ainda. Mais. Não sabes onde estou, nem como. Nem eu sei. Apenas aguardo a decisão que não vem totalmente de mim. Guardo dentro a história toda, da vida toda, essa coisa intensa demais, densa feito óleo sobre os olhos, como onda que se agiganta diante de mim. Nada tenho a fazer além de andar. Tempo que passa, coisas que se vão de tanto que ficaram esperando por vir. Nem eu sei o que quero. E ao imaginar ao que definitivamente não quero, escolho isso, essa coisa por ver, por conhecer, por experimentar. I need some pills cause the city can`t sleep. Agora não vês onde estou. Nem vejo. Nublam as retinas exaustas, tornam-se foscas contra a incisão de brilho que se impõe.  Às vezes acho que quero, às vezes acho que não. Às vezes olho para esta cidade e me pergunto somente por quê? Por que escolheram facas e deixaram escapar de novo a promessa de redenção? Olho para esta cidade e me conformo com o destino que tudo isso terá, como se fora alguém que já se foi e assiste à cena sabendo que logo terá um fim. Assim quiseram. A sensação de finitude, o conhecer a si mesmo estando de frente à própria despedida. E nada dói nesse instante claro. Conheci a mim, estive contigo por um tempo demasiado inesperado. Fiz o que queria, senti mais do que supunha possível, disse todas as verdades, me atirei ao fundo do fundo que o fundo nem sabia de si. E trouxe de lá coisas sagradas, transformadas por um coração tanto bobo quanto fraco, batendo fora do ritmo. Me disseram uma vez que a força estava nisso, em converter o feio e o triste em partitura e palavra. Achei bom. Gostei de ter sido o que fui quanto a esse ofício. Gostei de ti por muito, muito tempo. E agora não sei onde estás. Nem tu sabes. Vamos indo assim mesmo — Elusive. Como fôssemos asas soltas ao vento e, de repente, de súbito, passássemos uma pela outra sem querer. Fico daqui vendo teus vôos, tuas idas, tentando imaginar como são. Ficas daí vendo minhas andanças, minhas pequenas enormes vitórias diárias contra a loucura. Pendulares paralelas em meio ao breu da noite. Hoje somos assim simplesmente sem termos acertado a nada. Se houver amanhãs não quero saber quanto seremos nem onde estaremos. Agora, só o silêncio infinito me acomoda e me sossega.

Necka Ayala
10/11/2018

Nenhum comentário:

Postar um comentário