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domingo, 6 de outubro de 2013

18


Se 18 tinham ido e todos voltado, algo queria dizer. Mesmo que cada ida contivesse em si um motivador diferente. Mesmo assim. Foram 18 vontades, quereres, buscas frustradas. Mesmo que cada um estivesse em tempos diferentes, ainda assim! Voltaram. E isso tinha de querer dizer alguma coisa.
Não se vai achando que a nada se pode encontrar, obter, ter. Nem que seja um devaneio iluminado, uma fotografia perfeita, uma cena memorável. Souvenires. Recordações de tempos perdidos, idos. Tinham ido, concluído viagens, mesmo que cada uma por um meio – e eram navios, barcos, asas, carros, canoas. A verdade é que retornaram por meios mais velozes e, essa pressa, continha uma mensagem subliminar.
Não se arrumam malas prevendo onde serão hospedadas as peças – se pretende usá-las. O perfume para a noite, a loção de barba, a camisa que valoriza o peitoral – foram 18 bagagens, enfim. Umas temporariamente em caixas de papelão imitando móveis alternativos. Não tinham alternativa. Foram dispostos a tudo. Mesmo que fosse apenas para provar daquela bebida nativa ou só para penetrar em terras inexploradas, praias desertas, trilhas impossíveis. Quem sabe propor um costume levado nas mãos como oferendas da terra natal, ofertar o novo por lá. Foram 18 regressos. Mas se terem ido com tamanha volúpia nos olhos, com tantas lentes brilhantes prontas aos disparos, não os demoveu de desertarem, havia algo errado naquele destino. Cidade deserta talvez. Bares vazios. O que teria havido ou não havido era 18 vezes incógnito.
Não se dispendem tempo e recursos para ir, visando a uma abreviação de jornada. Se comunicam amigos, se compartilham planos, se preveem acontecimentos a serem descritos um dia, quem sabe, caso voltassem. Mas voltar é diferente de retroceder. E era como se 18 pares de olhos desavisados tivessem se deparado com uma Antártida inteira quando buscavam, apenas, a neve suave e lisa. A descida de montanha branca, deslizando livres seus pés e pernas devidamente viris e protegidas.
Agora pareciam 18 sobreviventes de canais a cabo. O que teriam vivido? O que teria esvaziado os olhares que levaram ao sair? Pés encarangados, mãos vazias - nada trazido para exibir nas escrivaninhas e mesas de escritório. Só o peso das malas mudado: uns trouxeram sobre elas uma covardia recém descoberta e mapeada. Outros chegaram perdidos como pós-abduzidos. Uns despatriados. Nenhum feliz, nenhum querendo tentar novamente.



Necka Ayala

02/05/13

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