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domingo, 13 de outubro de 2013

Terremoto

Talvez tenham tremido as paredes internas que tinha, por ter sido a vez primeira daquele enfrentamento. E lembro que a sensação era, a um mesmo tempo, de surpresa e de temor. Temia que o tempo não parasse e precisava que sim, urgentemente. Eram décadas contemplando com os mesmos olhos nascidos negros, ao negro que lhes entornava. Eram centenas de dias perdidos, manhãs quebradas, tardes longas, noites tontas. E vinha certa de que aquilo era assim mesmo, um desvario dos deuses contrários, uma carnificina de corações sem paradeiro. Mas ali, diante da beleza que se desnudava e exibia luz sobre luz sobre cor sobre o céu que pairava ao fundo da cena, tremi. Era claro ao fim de tudo. Contra o verde, refletiu-se somente o ponto fixo escuro do meu olho - pequeno. E entendi que nem todas as coisas sobre a terra tratavam daquilo. Havia, para além das fronteiras sulistas, o encontro das águas, as terras vermelhas, outras cidades. E a beleza que desfilava diante de mim, causava espanto, causava mais e mais tremor – eram minhas profundezas se revirando, movendo tudo que havia naufragado, deixando emergirem tesouros perdidos dos quais nada sabia. Dali em diante, nada mais nunca mais foi o mesmo. Não fui. Ninguém havia me dito que a Beleza resgata de nós tanto navios quanto asas. Nem que ela percorre desde o fundo do fundo de nós até às alturas, tocando as pontas das asas dos anjos. E que nos sentimos tanto sereias, quanto querubins quando aceitamos dar-lhes nossas mãos. Ninguém havia dito a palavra certa. Só sei que nunca mais quis parar de ser acometida de tremores. Nem posso, simplesmente não posso. 

Me tira o barco, quebra seus remos, mas deixa o Mar para os meus olhos”. (Citação SENHOR, Cavalo-Marinho)


Necka.

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