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domingo, 13 de outubro de 2013

Volta ao Mundo

E pouco me importava aonde estava indo, quantas ruas faltavam, quantas ladeiras a subir sem fôlego porque nem lembrava que não havia fôlego, sentia mas não lembrava disso, já que não interessava como ir, mas ir indo apenas. E seguia sem olhar se vinha o céu ameaçando por cima, se tinha gente me seguindo por trás, se o mapa estava dentro num bolso qualquer, nem me ocorria saber o ponto onde estava, se tinha acertado o itinerário, porque não era o itinerário que contava, mas a ida, a força que movia o ir, ir além, ir indo, um pouco mais adiante naquilo, sangue correndo nas veias, músculos determinados a cumprir percurso, não calculando quanto de peso sobre os ombros. E nem me atinha ao sol a pino, à fome estampada na cara, à gastura dos panos puindo ao ar livre, sentia que alguma coisa rareava em mim, mas não lembrava direito do que era e nem me dava conta do quanto faltava, já que tinha a ida e a ida era tudo que me mantinha indo. E tanto fazia se haveria atalhos, nem queria atalhos – olhava atenta ao solo contra os pés, a força que tinham tanto o solo quanto os pés, chocando-se o tempo todo um contra dois, eu contra o tempo, contra o caminho, comendo chão pelos olhos, indo, indo apenas. Chegar nem passava pela cabeça, parar, descansar da jornada, somar o percorrido, o ido, mas ir. Sair de onde estava morta e seguir àquele fio de alguma coisa que sustentava ainda um passo a mais, um além qualquer que fosse logo ali depois do primeiro passo, não importava mesmo, juro que não. Que fossem mil ruas de mil quilômetros cada, milhões de estrelas assistindo a travessia, bilhões de passantes que ficavam para trás junto à morte do que eu era, zilhões de pedras ultrapassadas e dias e datas e folhas de calendários e tempos idos, desde que tivesse ido mais além, indo apenas...


Necka.

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