Sinto
muito por ti, que perdeste a Lua Branca e imensa que luzia. Estava ali o tempo
todo à tua espera, mas não ias. Pousou mil anjos à tua volta e, da tua boca,
prece alguma foi dita, nenhuma vela acesa sobre a mesa e ninguém ao lado para
repartir teu pão. A casa silenciada e fria. Perdeste tanto, que de nada valeria
contar, tamanha a vastidão do abismo que se abria. Sinto muito por ti que
perdeste o senso, a lucidez e o movimento, numa eterna e só paralisia. Estava
lá, a luz inteira pela frente e escolheste cegar a quem te via. Preferiste
avalizar a quem te devorava a alma e tu, sem ao menos compreender, assim o
consentias. Sinto muito por teu leito enviuvado, pelo muito que dele se ausenta.
Pelas vestes mais alvas que vestias e rasgaste num rompante de loucura. Sinto
tanto por ver que em ti fez casa, bem no centro do peito que era claro, uma pilha
de escombros e passados, um sem-fim de escuros e fracassos. Sinto muito por ti
que me salvaste do destino cruel que agora colhes. Olho a lua e retomo o
crescimento, a colheita das coisas que regava. Desde sempre a vontade
sementeira, me moveu e me trouxe até o agora: ao que sei, ao que sinto e ao que
acredito. E lamento por ti que te despedes das certezas infindas que o amor daria.
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