7h30. Ponteiros que mostravam que
era chegada a hora de todas as chegadas. Hora da meia-luz, do pano branco e
brando sobre a pele. Por isso meu relógios. O verde era a menção ao tom do mar
à superfície feliz dos olhos. E o laranja lembrava o bater de asas de uma
borboleta contra a janela amanhecida daquele primeiro dia — o dia da liberdade
que tomaste e depois deixaste morrer. O Santo, o primeiro, coisa de um Natal
feliz numa casa onde a verdadeira família reside ainda e o sorriso que abro até
hoje lembrando do pequeno dizendo: ó, um Jesus Cristo! Coisas da vida toda.
Referências. Minhas! O chaveiro enferrujado da primeira casa; a caixa de lápis
de cor que recebi quando menina de uma das minhas “mães”; o travesseiro
confeccionado pela rainha do amor, Olinda — ela está ali, nele, quando o aperto
contra o peito e chamo pelo nome dela . . . Olinda. A primeira pena do pássaro
verde e seu principado feliz! Tudo guardado. A mesa sonhada, o móvel desenhado,
as árvores que cabem na mão, os cadernos de receita das antepassadas, o perfume
favorito que traz consigo a cada sorver, recordações de um tempo livre e limpo.
Não entendes meus apegos. E sinto muito que a transitoriedade extremada tenha
te feito crer que a tudo se substitui. Sim, para os que a nada se apegam, para os
que não podem ter histórias longas uma vez que tudo passe e nada signifique
nada. Não é assim: as coisas, quase todas, têm importâncias caras e
são tesouros. Nas horas em que não há ninguém ali, nos momentos em que dar-se
conta da realidade nos abate . . . é aí que as coisas voltam a ocupar espaços e
devolvem o sentir para dentro. As músicas foram trilhas de toda uma história. E
as coisas, partes dos cenários dessa mesma história. Raízes! Formar raízes! Ter
onde pousar depois dos vôos e como se manter firme no solo em meio às
tempestades: para isso existem as raízes. Para fecundarem a terra onde queremos
que dê fruto. Para os benefícios, para as certezas, para os portos-seguros.
História — aquilo que fica quando partimos se tivermos sido alguma coisa de
valor. E quem vem a passeio, vira passeio, não deixa a nada, não é, não fica,
não frutifica — passa. Por isso meus relógios, minhas árvores, minhas coisas
sagradas que, certamente, não irão comigo. Eu irei com elas pela eternidade que
me compete.
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