Permaneces
olhando infinitamente para os pés, para os sapatos que calças, para as pedras
no meio das avenidas, para os insetos que transitam, para a barra das calças. E
a vida ali pedindo que olhes antes, para onde vais. O destino. O ponto aonde
queres chegar. Permaneces preso ao que te prende, fitando a cor do metal que
circunda teus pulsos, sentindo o frio dos elos em torno das tuas costas, fardos
eternos que não tiras porque não vês que as chaves estão ali — perto, no lugar
para onde não olhas. Permaneces inerte, inapto, não conseguindo, não
conseguindo, não tendo, não sentindo, não sendo! Não podendo, não
administrando, não querendo. E os dias passando, os anos virando as páginas dos
calendários. E tu parado num tempo que não mais retorna, decorando o tamanho e
o som repetitivo de tudo que começa com não. Um mantra às avessas que entoas em
vez de decretares tua soltura. Não inicias a viagem. Não decolas tuas asas. Não
sais desse lugar infernal ao qual tu mesmo te condenaste e a mim. Permaneces
olhando ao mar no imaginário da beira. Não o tomas para ti, não entregas teu
corpo inútil às ondas que poderiam te levar para longe, lá...longe, naquele
lugar que dizes cada vez mais baixo que querias estar. Cada vez queres menos.
Cada vez podes menos. Cada vez és menos. Nada tens. Não mais. Só porque permaneces
olhando infinitamente para os pés, para os sapatos que calças, para as pedras
no meio das avenidas, para os insetos que transitam, para a barra das calças .
. .
Necka
Ayala
19/05/2017
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