Então,
ela chegaria de repente. Traria nas mãos abertas a oferenda do nada, aquele
que, sem palavras, diria: daqui, o todo faremos juntos. Entraria sorrindo um
largo e transparente sorriso de quem sentiu saudades e veio. Sorriria porque
veio, finalmente. Então ela proporia plantar flores no jardim chamando anjos.
Atrairia borboletas, abriria janelas aos ventos, pondo a lua para ornar a
vista. E ela seria, assim, a fim da vida. Convidaria, se mostraria próxima das
coisas encantadas pois teria afeição a elas simplesmente. Vestiria panos
brancos sobre o corpo diante das varandas de novo e de novo, na confirmação da
própria liberdade. Então ela apenas silenciaria para tudo que fosse denso e
duvidoso. Mas falaria disposta e benfeitora, sobre tudo que fosse lindo cometer
em par, expandindo e aumentando a sedutora presença do que é bom em si.
Alimentaria aos desejos e deixaria os medos morrerem à míngua. Viveria o Todo
do beijo, com calma e sem hesitação, sem pressas, sem ponteiros. E se alguma
sombra oferecesse morada, ela viria aberta e diria: podemos agora,
imediatamente, abrir mais luz ao nosso entorno? Não — ela jamais traria de fora
as coisas feias do mundo, nem as lâminas, nem as bagagens pesadas, nem as
culpas. Traria esperanças, futuro! Abençoaria quem a abençoa. Acariciaria quem
a espera, pois sentiria na pele a existência plena do apreço. Então ela seria
aquela que pode ceder pois quer o resultado que vem depois, a conquista feita,
concluída no próprio leito. Não — ela não seria uma que impõe suas regras e ergue
seus muros, nunca! Ela viria alada, não arrastando correntes. Ela chegaria
solta, não algemada ao passado. E seria linda assim, quanto mais sentisse.
Então, ela viveria e tudo mais também, florescendo novo diante do primeiro raio
da próxima manhã.
Necka
Ayala
19/05/2017
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