Antes de tudo, era noite, tarde. Nada sabia sobre aquilo que
via. Nada identificava em si, dentro, onde algo já era, já havia nascido dias
antes. Mas foi antes. Antes das certezas, antes de saber, antes de entender. Foi.
Apenas foi. Um primeiro passo e foi, um segundo passo e um terceiro passo e
nada mais importava. Importava que queria ir e foi indo, noite adentro, sem
relógios, sem motivos, sem pertinências. Livre, foi livre. Só depois de ir é
que soube que sempre havia querido ir. Só mais tarde teve certezas. Viveu
antes, muitas e muitas vezes. Soube depois do que se tratava o que havia
vivido. E foi feliz antes mesmo de saber que seria tanto. Sem garantias, sempre
aquela mala entreaberta ali sem dar aval a nenhuma permanência. Sem promessas,
sem planos, sem entendimentos, ia. Ia desbravando noites sem bocejos, sem
cansaços, sem máscaras. Ia em si mesma conhecendo o que não sabia que estivera
lá desde sempre, desde antes. E antes é o que sempre importava, o que tinha
vindo antes! Primeiro foi, depois soube do que se tratara ser. E até hoje
procura errante entender, quando entender não é preciso. Quando entender passou
a ser preciso, deixou de ser e nunca mais foi.
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