Era doce. Abriu-se um sol enganador e secou aos poucos. Veio
a aspereza, o linchamento da coisa em si, o estrago profundo. Agora é isso, essa
coisa raivosa, amarga, solidificada dentro. Esse dano, essa danação. Essa
desilusão com a vida, essa traição de 30 dinheiros, essa cruz exposta sobre os
ombros. Veio essa negação inteira, esse silêncio mórbido e sádico. Era claro. O
tempo veio e tombou a luz de onde estava. Tornou castanha a coisa toda.
Estranha. Inadequada. Apagou as cores todas de onde residiam. Matou o que fazia
falta. Fez deslembrar-se do que era leve e bom. Ficou assim, esquisito, manco,
capenga, obscuro. Era risonho. Veio a maledicência acusatória e a concordância
com o crime. Veio a falácia, a inveja velada, a intenção disfarçada de quem
atentava contra. E assentiu, deixou que fosse, que morresse, que desiludisse,
que maculasse o sagrado. Agora é isso, essa coisa pesada, esses escombros sem
frestas, essa insanidade que se levanta sem porquês quando desperta e segue
assim, automática, inumana, infeliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário