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sábado, 28 de outubro de 2017

Amargo


Era doce. Abriu-se um sol enganador e secou aos poucos. Veio a aspereza, o linchamento da coisa em si, o estrago profundo. Agora é isso, essa coisa raivosa, amarga, solidificada dentro. Esse dano, essa danação. Essa desilusão com a vida, essa traição de 30 dinheiros, essa cruz exposta sobre os ombros. Veio essa negação inteira, esse silêncio mórbido e sádico. Era claro. O tempo veio e tombou a luz de onde estava. Tornou castanha a coisa toda. Estranha. Inadequada. Apagou as cores todas de onde residiam. Matou o que fazia falta. Fez deslembrar-se do que era leve e bom. Ficou assim, esquisito, manco, capenga, obscuro. Era risonho. Veio a maledicência acusatória e a concordância com o crime. Veio a falácia, a inveja velada, a intenção disfarçada de quem atentava contra. E assentiu, deixou que fosse, que morresse, que desiludisse, que maculasse o sagrado. Agora é isso, essa coisa pesada, esses escombros sem frestas, essa insanidade que se levanta sem porquês quando desperta e segue assim, automática, inumana, infeliz.

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